Pecuaristas cobram posicionamento do Mapa sobre rendimento de carcaça

Produtores acusam frigoríficos de não seguirem leis e orientações

06/05/2020 às 17:41 atualizado por Adriano Falleiros - SBA | Siga-nos no Google News
:

Produtores rurais do movimento “Levanta Cabeça”, de Araguaína, no Tocantins, encaminharam abaixo-assinado para a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, solicitando posicionamento oficial de seu ministério em relação à irregularidades praticadas pelas indústrias frigoríficas no toalete e quebra de rendimento em carcaças bovinas.

De acordo com o documento, “no Brasil nos últimos anos tem havido grande discussão entre pecuarista e a indústria frigorífica acerca do rendimento de carcaça. Embora esse tema possa parecer sem sentido uma vez que há leis e portarias governamentais que definem o que é carcaça bovina, na verdade os frigoríficos não seguem essas leis e orientações”. 

A Instrução Normativa nº 9, de 4 de maio de 2004, define carcaça  bovina como “o animal abatido, sangrado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça (separada entre os ossos occipital e atlas), patas (seccionadas à altura das articulações carpo-metacarpiana e tarso-metatarsiana), rabada, órgãos genitais externos, gordura perirrenal e inguinal, ferida de sangria, medula espinhal, diafragma e seus pilares” a indústria frigorífica vem submetendo as carcaças por ela processada a uma rigorosa toalete para remoção de tecido adiposo (gordura) e até mesmo cortes cárneos como o matambre (músculo cutâneo toráco abdominal).

Mais recentemente no DECRETO Nº 9.013, DE 29 DE MARCO DE 2017, definiu-se que carcaças são as massas musculares e os ossos do animal abatido, tecnicamente preparado, desprovido de cabeça, órgãos e vísceras torácicas e abdominais, respeitadas as particularidades de cada espécie, observado ainda: I - nos bovinos, nos búfalos e nos equídeos a carcaça não inclui pele, patas, rabo, glândula mamária, testículos e vergalho, exceto suas raízes; (Redação dada pelo Decreto nº 9.069, de 2017).

Os produtores alegam que, não obstante o detalhamento criterioso dado por normativas e decretos do Mapa, os frigoríficos tem realizado rigorosa toalete nas carcaças antes da pesagem, ocasião em que são retiradas porções de tecido adiposo (gordura) nas mais variadas regiões das carcaças.

O problema é antigo e pode ser constatado no próprio MAPA, onde um e-mail foi enviado pelo SIPOA/DDA/SFA-RS e relata: “desuniformidadede procedimento em relação a toalete de carcaças bovinas, citando como exemplo que na remoção da ferida de sangria ocorre a retirada de quase ou a totalidade da musculatura ventral do pescoço (indo próximo as vértebras cervicais e a 1a costela), remoção do ligamento cervical no abate, parte do coxão mole – músculo obturador interno (aranha), região do vazio: além do gânglio pré-crural e gorduras anexas, saem as serosas viscerais e realizam a reetirada do músculo reto abdominal-porção pré-púbico (pacu), deslocamento da paleta e das vértebras cervicais em locais que antecedem a pesagem das meias carcaças”.

Embora a posição do MAPA seja contrária à retirada desses tecidos não há um posicionamento oficial do ministério de modo a coibir essa irregularidade praticada pelas indústrias frigoríficas. 

Trabalhos realizados pela Universidade Federal do Tocantins tem avaliado ao longo dos últimos dez anos a toalete final nas carcaças bovinas em vários frigoríficos. No caso dessas avaliações, são pesados apenas o tecido adiposo retirado para dar maior uniformidade às carcaças e, obviamente, colocando na conta do produtor uma despesa que seria da indústria frigorífica. 

Dados sobre a remoção de gordura (toalete) e qual o prejuízo que essa prática tem causado aos pecuaristas.

Tabela 1: Rendimento de carcaça quente, rendimento de carcaça sem retirada de gordura, recorte de gordura e prejuízo causado aos produtores em função da toalete.

Categoria

RCQ, %

RCQI, %

Diferença

RG*, kg

Prejuízo*, R$

 

 

Macho inteiro

51,45

53,68

2,23

11,10

111,00

Barros (2014)

 

Macho inteiro

55,09

57,13

2,04

9,63

96,30

Cunha (2014)

 

Macho inteiro

55,59

57,33

1,74

8,40

84,00

Mendes Filho (2016)

 

Fêmea

51,40

54,39

2,99

9,95

99,50

Oliveira (2017)

 

Macho inteiro

51,31

53,24

1,93

8,22

82,20

Santana et al. (2014)

 

Fêmea

51,30

53,55

2,25

8,23

82,30

Souza (2016)

 

Média

52,69

54,89

2,19

9,26

92,60

Média

 

*Valor da @: R$ 150,00. RCQ, Rendimento de carcaça quente; RCQI, Rendimento de carcaça quente integral; RG, recorte de gordura.

* No recorte de gordura não está incluída a gordura perirrenal e inguinal, cuja a retirada é prevista na Instrução Normativa nº 9, de 4 de maio de 2004.

 

Conforme pode ser visto na tabela acima, só a remoção, não permitida por lei, de tecido adiposo (gordura) das carcaças, causa um prejuízo de R$ 92,60 (noventa e dois reais e sessenta centavos) por animal abatido, isso, sem considerar os outros tecidos e músculos supracitados (musculatura ventral do pescoço, parte do coxão-mole – músculo obturador interno (aranha), e músculo reto abdominal-porção pré-púbico (pacu)).

Quanto ao rendimento de carcaça, observa-se que em média a retirada da gordura causa uma diminuição de 2,19 pontos percentuais no rendimento de carcaça dos animais. Assim sendo, fica claro que a frequente divergência entre os rendimentos de carcaça esperados pelos produtores e os rendimentos obtidos na ocasião do abate não se dá ao acaso ou é fruto do “hábito de reclamar sempre” do pecuarista.

Quando se compara os rendimentos de carcaça de raças conhecidas mundialmente como a raça Angus, os rendimentos obtidos no Brasil estão sempre aquém dos obtidos em outros países, mesmo em condições semelhantes de manejo e alimentação. De novo pose-se comprovar que, a indústria frigorífica, altamente dominadora na cadeia produtiva da carne bovina está submetendo os produtores a condições que inexistem em qualquer outro país do mundo.

O documento encaminhado ao Mapa aponta que é necessário que, em caráter de urgência, o Ministério faça cumprir as instruções normativas e decretos existentes, e, publique instrução normativa específica que permita aos produtores intervir quando da remoção indevida de partes das carcaças bovinas.


Últimas Notícias