Café e negócios fechados no “fio do bigode”

Cafeteria no coração de Pelotas-RS guarda lembranças do passado

16/10/2019 às 15:41 atualizado por Douglas Ferreira - SBA | Siga-nos no Google News
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Foto: Anelise Nicolodi

Um café, na esquina das ruas Quinze de Novembro e Sete de Setembro, é um marco na história de Pelotas, a terceira cidade mais populosa do Rio Grande do Sul, que fica na região sul do Estado.

Muitas memórias estão guardadas no local que abriu as portas em 1942. Fazendeiros costumavam se encontrar ali para negociar terras e gado. Naquela época as transações de bens eram feitas com menos formalidade e o negócio era fechado “no fio do bigode”,  entre um cafezinho.

Pelotas era uma referência na industrialização do charque. Cortada em mantas, a carne salgada era pendurada em varais ao ar livre, em um processo que demandava 18 dias de exposição ao sol. Todo esse procedimento visava conservar o produto tanto no estoque da fábrica quando nos postos de mercado. Com o fim da abolição da escravatura e mais tarde a chegada da linha férrea que facilitou o escoamento até o Porto de Rio Grande, o ciclo do charque se encerrava dando lugar as plantações de arroz. As antigas charqueadas viraram atração turística em Pelotas.

Foto: Anelise Nicolodi
​​​​​Charqueada São João -  Residência da família do charqueador Antônio José Gonçalves Chaves, a casa foi construída no início do século XIX às margens do Arroio Pelotas, ponto estratégico para escoar a produção de charque até o Porto de Rio Grande. Foi uma das charqueadas mais bem sucedidas economicamente e encerrou suas atividades como indústria em 1937. Ela manteve suas características da construção original e desde 2000 é aberta ao público como ponto turístico.

Memórias que continuam vivas no Café Aquários, hoje parada obrigatória em Pelotas para várias gerações. Não é por acaso que o estabelecimento vende o maior número de cafés em xícara no Estado, ainda no perfil tradicional. Uma grande máquina no centro da loja fornece café passado fresquinho aos clientes.

Na tarde chuvosa em que estive no local, quase não havia espaço para me acomodar. O murmurinho das rodas de conversa é trilha sonora para os ouvidos. E entre um bate papo e outro alguém chamou minha atenção.  Seu Pedro Abadie Gomes Braga, 91 anos. Estudou Odontologia em Pelotas na década de 50, arrumou casamento na cidade e levou a prenda para morar em Cruz Alta, sua terra natal. Aposentado do consultório de odontologia ele e os filhos seguem com a atividade rural, plantam soja, milho e trigo. Sempre que possível ele gosta de visitar Pelotas para rever os parentes e é claro, dar uma passadinha pra tomar o bom e velho cafezinho.

Ah! Não poderia esquecer-me de contar que em 1942 o local se chamava Café Nacional, mais tarde a Torrefadora do Café 35 assumiu as atividades e este passou a se chamar Café 35. Em 1970 vieram novos donos ganhando, aí sim, o nome de Café Aquários, terminologia que fazia referência as grandes aberturas envidraçadas que o estabelecimento possui, marca deixada pelos portugueses. 

Foto: Anelise Nicolodi

 


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