
Mais duas variedades de mandioca de uso industrial para o Centro-Sul foram lançadas pela Embrapa no dia 2 de julho, em Naviraí (MS), durante o 5º Dia de Campo da Mandioca promovido pela Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul). O evento atraiu mais de 300 pessoas, a maioria produtores.
Após a fala de boas-vindas do presidente do Conselho de Administração da Copasul, Gervásio Kamitani, os representantes da Embrapa no dispositivo de abertura, o chefe-geral substituto da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), Carlos Estevão Leite Cardoso, e o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste (MS), Auro Akio Otsubo, destacaram em seus pronunciamentos a importância do trabalho realizado com a cultura da mandioca na região em parceria com o setor produtivo.
"O lançamento de uma variedade é só o começo de um processo. Para fazer essa trajetória de lançamento, adoção e uso por parte dos agricultores de forma a provocar efeitos e impactos na sociedade, é preciso parcerias importantes, como essa com a Copasul. A melhor forma de acelerar, aumentar a possibilidade de adoção de uma tecnologia é desenvolver e validar junto com quem vai utilizar. Então essa parceria tem a grande importância de materializar essa ação cada vez mais decisiva de envolver os verdadeiros interessados no processo de geração, validação e difusão de resultados", afirmou Estevão.
Otsubo ressaltou que a diversificação de variedades vem atender a uma das principais demandas dos mandiocultores da região. "Esse é o ápice de um trabalho que se iniciou lá atrás e envolveu essas duas Unidades da Embrapa, a Copasul e outros parceiros. Essas duas cultivares de mandioca voltadas para industrialização vão ser de grande importância aqui para a região, pois se trata de dois materiais extremamente adaptados às nossas condições, com alta produtividade de raízes e elevado teor de amido", pontuou Otsubo.
A apresentação das variedades BRS Boitatá e BRS Ocauçu ficou por conta dos pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Rudiney Ringenberg, à frente hoje do trabalho de validação das cultivares na região Centro-Sul, e Vanderlei Santos, responsável pelo programa de melhoramento genético de mandioca do centro de pesquisa à época da seleção das variedades. Após sua exposição, Ringenberg homenageou o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Marco Antonio
Rangel, que hoje atua no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e iniciou esse trabalho de validação das cultivares no Centro-Sul do País há quase 20 anos. O evento também contou com a participação do analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura Helton Fleck da Silveira, um dos coordenadores da Rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária (Reniva) e gestor dos ativos relacionados à cultura da mandioca na Unidade.
A programação do evento incluiu outras duas palestras. A conjuntura de mercado para mandioca e derivados foi abordada pelo pesquisador Fábio Isaías Felipe, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). Em seguida, o agricultor Laercio Della Vechia falou sobre os princípios de uma agricultura sustentável. Na parte da tarde, o público visitou as áreas demonstrativas e conheceu exemplares das novas variedades e das demais lançadas pela Embrapa para a região: BRS CS 01 e BRS 420, de uso industrial, e BRS 429, variedade de mesa (aipim), assim como outros clones em processo de avaliação.
Características
As duas variedades são altamente produtivas, têm elevado teor de amido e resistência a doenças comuns na região como bacteriose, superalongamento e antracnose, o que reduz a necessidade de agroquímicos.
As raízes da BRS Boitatá têm película clara, que permitem sua utilização tanto na produção de amido quanto de farinha, ampliando seu potencial de mercado e beneficiando toda a cadeia produtiva. A variedade é adequada tanto para colheitas precoces quanto tardias, atendendo às necessidades das fecularias que requerem matéria-prima durante todo o ano. Também tem boa produção de material propagativo.
Já a BRS Ocauçu favorece uma rápida cobertura do solo e possui porte adequado para plantio mecanizado, o que facilita seu cultivo em larga escala. É adaptada a solos de baixa fertilidade, pode ser utilizada em colheitas precoces quanto tardias e tem boa produção de material propagativo. Também possui teor de matéria seca elevado e estável, duas características desejáveis na produção de amido (principal componente da matéria seca) e na de farinha.
Validação Os dois clones originaram-se de cruzamentos realizados na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). As plantas resultantes das sementes oriundas desses cruzamentos foram enviadas à Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS). Em seguida, os materiais selecionados foram avaliados em vários ensaios em rede, nos quais se destacaram os clones 2010 55-04 (BRS Ocauçu) e 2010 56-18 (BRS Boitatá), ambos registrados em 2022 e recomendados para o estado de São
Paulo. Em 2024, as duas variedades foram registradas para cultivo nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná.
Os materiais foram testados e aprovados pelas indústrias mais exigentes, tanto de fécula quanto de farinha, do Centro-Sul. "São produtores que nos dão um feedback de alta qualidade. O comportamento dos materiais está muito estável em termos de produtividade e de produção de amido por hectare, por exemplo", explica Rangel.
O engenheiro-agrônomo, coordenador de produção, da Copasul Cleiton Zebalho conta que recebeu o primeiro lote das duas cultivares em 2022 para experimentação. Com cerca de três anos de multiplicação das variedades em área de cooperado, ele destaca como principal aspecto o fato de serem cultivares para dois ciclos: "Hoje temos dificuldade de material com potencial produtivo para dois ciclos. Torna-se uma alternativa para os nossos produtores terem uma diversificação de cultivares." A Copasul é, por enquanto, a fornecedora de material de plantio. Ao longo do segundo semestre, novos parceiros serão incorporados ao rol de fornecedores.