Quem frequenta feiras livres e sacolões já percebeu o aumento nos preços de diversos itens alimentícios, com destaque para verduras, legumes e frutas. Depois do café e do ovo, esses produtos estão entre os que mais sofreram altas nos últimos meses, e uma das principais causas é o impacto do clima na produção agrícola.
As intensas chuvas de verão, que afetaram as regiões de Minas Gerais e São Paulo em janeiro, prejudicaram a produção de abobrinha italiana. No Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), a oferta do produto caiu 34,5%, com o preço atingindo R$ 3,01 por quilo. Em um ano, a abobrinha italiana teve uma variação de preço de +85,9%.
A região do Alto Tietê, em São Paulo, conhecida pelo cultivo de hortaliças, legumes e frutas, também foi afetada pelas chuvas. Dados meteorológicos mostram que, em janeiro, as estações de Mogi das Cruzes registraram altos volumes de precipitação, com 242,18 milímetro(mm) em Cocuera, 142 mm em Cobal e 135 mm em Jundiapeba. Em fevereiro, o volume continuou expressivo, com Jundiapeba acumulando 185 mm e Cocuera 172 mm, que impacta diretamente a qualidade da produção.
Bruno Hayami, engenheiro agrônomo do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, explica que a alta umidade do solo e a ocorrência de ventos e granizo criaram condições favoráveis para o aparecimento de doenças nas lavouras.
“Na região do Alto Tietê, há muitos mananciais e áreas de várzea que alagam com as chuvas fortes e volumosas. Os produtores localizados às margens dessas áreas contabilizaram diversas perdas. Quando chove muito, a umidade elevada do solo cria um ambiente favorável para doenças, e o produtor precisa investir mais em produtos para controlar o ataque das pragas. Por isso, muitos preferem colher o produto antes ou diminuir a área plantada”, relata o agrônomo. Hayami diz que o preço da caixa de alface, que em janeiro custava R$ 23,00, subiu para R$ 35,00 em fevereiro, um aumento de 52,17%.
Além das chuvas, o calor intenso tem sido outro fator a dificultar a produção. “Como o agricultor lida com produtos frescos, quem possui irrigação na propriedade conseguirá contornar melhor as altas temperaturas”, comenta.
Para as próximas semanas, a previsão é de que o ritmo de plantio se acelere, mas os preços devem continuar elevados, especialmente até a terceira semana de março. O impacto das altas temperaturas deve ser sentido também nas áreas produtoras do Cinturão Verde Paulista, que abastecem grande parte da capital paulista com frutas, legumes e verduras.
O Cinturão Verde Paulista do Alto Tietê, composto por municípios como Mogi das Cruzes, Suzano e Guararema, é responsável por fornecer cerca de 50,5% das verduras consumidas em São Paulo, 32,3% das frutas e 5,4% dos legumes. Essas cidades também abastecem mercados de outras regiões, incluindo Baixada Santista e até o Rio de Janeiro.
Em comparação, o Cinturão Verde Paulista Oeste, que abrange Ibiúna, tem uma contribuição significativa no fornecimento de verduras (70,24%) e legumes (27,11%) para a cidade, porém a produção de frutas e flores é mínima.
Segundo a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), os preços de diversos produtos sofreram variações significativas em fevereiro devido à combinação de fatores climáticos, baixa sazonalidade e aumento da demanda. Os principais itens afetados foram alface, brócolis, coentro, salsa, cebolinha, couve, vagem, pimentão, tomate, chuchu, pepino, melancia e morango.
Na semana atual, a tendência é desfavorável para a compra de produtos como abacaxi, figo roxo, diversas variedades de laranja, manga, melão e alguns tipos de hortaliças. Esses produtos estão com preços mais altos, impactados pelas condições climáticas e pela oferta reduzida.
O cenário atual aponta para um mês de março desafiador, com altas temperaturas e uma oferta ainda restrita, que reflete diretamente no bolso do consumidor.
Informações: Climatempo