Eficiência na pecuária reduz emissões e melhora o meio ambiente

O impacto real dos ruminantes no aquecimento global, a importância da eficiência alimentar e o papel da seleção genética na redução das emissões de GEE

06/02/2025 às 12:23 atualizado por Luiza Vonghon - SBA | Siga-nos no Google News
:

De acordo com o professor de genética e melhoramento animal, José Bento Sterman Ferraz, estudos evidenciam que ruminantes são responsáveis por apenas cerca de 3,9% dos gases emitidos na atmosfera. Em contrapartida, os veículos de transporte contribuem com cerca de 30%, a geração de eletricidade com combustíveis fósseis mais 30% e a indústria/comércio outros 30%. Além disso, o tempo de ação do metano emitido pelos animais na atmosfera é de 12 anos, enquanto o CO2 lançado ao ar por outras atividades fósseis tem vida útil por 1.000 anos.

Ferraz enfatiza que, após 12 anos, o metano se transforma em CO2 biogênico e é absorvido pelas plantas por meio da fotossíntese. "Os bovinos comem o capim novamente e o ciclo recomeça. Em comparação, outras atividades apenas adicionam mais CO2 na atmosfera, acumulando de forma contínua um tipo de GEE que dura cerca de um milênio e que forma um verdadeiro escudo que impede que os raios solares sejam refletidos para o espaço, gerando aquecimento de nossa atmosfera."

Eficiência alimentar

A pequena parcela de gases emitidos pela pecuária está diretamente ligada à eficiência alimentar dos ruminantes. O ponto central é que animais menos eficientes precisam de mais tempo consumindo alimentos para transformar em carne e, portanto, mais tempo gerando GEE. "A conta é simples: o animal que possui capacidade para conversão de alimentos em carne de forma mais rápida pode ser abatido em menos tempo e parar de gerar esses gases", declara o professor. 

Os bovinos mais eficientes neste quesito possuem conteúdo microbiológico do trato digestivo diferenciado, algo que é regulado pela seleção genética. Isso significa que é possível melhorar de forma contínua, geração após geração, a eficiência alimentar dos animais e, ter maior precocidade de abate. 

Em algumas fazendas pecuárias, num mesmo lote, animais consomem até três vezes mais matéria seca do que os mais eficientes, que proporcionam maior retorno ao negócio. Em termos econômicos esse fato tem impacto negativo gigantesco para a lucratividade da propriedade, assim como para o volume de GEE emitido. Para alcançar esse bom nível de seleção genética para qualquer característica produtiva, como a eficiência alimentar, a vaca, que é a verdadeira matriz da indústria da pecuária, tem papel essencial e temos que selecionar para vacas mais produtivas. 

Segundo José Ferraz, outro fator determinante para a maior ou menor emissão de metano envolve a tecnologia da alimentação dos bovinos. Quanto mais moderna e eficiente mais contribui para a redução das emissões. O investimento em insumos nutricionais de maior qualidade é bom para todos, inclusive para o futuro do planeta. "A China tem contribuído bastante para esse avanço tecnológico e genético, na medida em que somente compra animais com, no máximo, quatro dentes ou seja, menos de 3 anos de idade. Essa exigência levou os pecuaristas brasileiros a investirem no melhoramento genético, para levar os animais para abate mais cedo. Além disso, são mais bem remunerados, por entregarem para a indústria animais com carne de melhor qualidade."

Seleção

A seleção genética tem se mostrado um fator essencial para a eficiência alimentar na pecuária, contribuindo diretamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). No entanto, especialistas alertam que os pecuaristas não devem focar exclusivamente nessa característica. A deposição de músculo é energeticamente mais econômica do que a de gordura, tornando-se um atrativo para muitos produtores. Ainda assim, a presença de gordura na carne é um indicativo de qualidade no produto final, além de desempenhar um papel crucial na reprodução dos rebanhos.

Novilhas com menor percentual de gordura corporal tendem a apresentar dificuldades reprodutivas. A falta de reservas energéticas pode retardar o início do ciclo reprodutivo e aumentar as chances de problemas na concepção, especialmente em primíparas. O desafio se intensifica quando esses animais são selecionados apenas para produção de carne e eficiência alimentar, sem considerar a necessidade de gordura para garantir uma gestação saudável e uma reconcepção bem-sucedida.

O investimento em inseminação artificial e na escolha criteriosa de touros apresenta um custo relativamente baixo em relação aos gastos totais de uma propriedade pecuária, mas com um retorno duradouro. Observa-se uma certa resistência, especialmente entre os pequenos pecuaristas, na adoção dessas biotécnicas.


Informações: José Bento Sterman Ferraz, professor titular de genética e melhoramento animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP)


Últimas Notícias