Secas prolongadas adiam recuperação de estoques de madeira em florestas

Estudo da Embrapa revela que o fenômeno El Niño e secas sucessivas atrasaram a recuperação de estoques de madeira na Amazônia

05/09/2024 às 15:13 atualizado por Roberta Martins - SBA | Siga-nos no Google News
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Um estudo da Embrapa, realizado entre 2000 e 2022 em 600 hectares da Fazenda Iracema, no interior do Amazonas, revelou que secas prolongadas, intensificadas pelo fenômeno El Niño, atrasaram em 20 anos a recuperação dos estoques de madeira em áreas de manejo florestal. A pesquisa focou na regeneração florestal e nos efeitos da exploração madeireira, mostrando que, apesar da recuperação da biomassa da floresta, os estoques de madeira comercial ainda não atingiram o volume previsto inicialmente.

O pesquisador Marcus Vinício Neves d’Oliveira, da Embrapa Acre, destacou que as árvores maiores, que são alvo da exploração comercial, sofreram alta mortalidade devido às secas sucessivas. Árvores com diâmetro superior a 50 cm, necessárias para a exploração legal, cresceram lentamente, retardando a reposição do estoque. A expectativa inicial de recuperação da floresta em 25 anos foi revista para cerca de 45 anos devido aos impactos climáticos.

A pesquisa revelou que a floresta começou a responder ao manejo somente oito anos após o corte inicial. Embora tenha havido um crescimento significativo das árvores remanescentes e ingressantes, a mortalidade elevada associada ao El Niño retardou esse processo. Secas extremas, registradas em 2005, 2010/2011, 2015/2016 e 2018, foram identificadas como os principais fatores comprometendo o crescimento das árvores nas áreas exploradas.

Os resultados indicam que, apesar da recuperação da biomassa em termos de número de árvores e volume, a floresta se tornou mais jovem, com predominância de árvores menores. Isso dificulta a exploração sustentável a curto prazo. Além disso, as espécies comerciais mais valiosas foram as mais afetadas pelas condições climáticas adversas.

O ciclo de corte em florestas manejadas na Amazônia varia entre 20 e 35 anos. Contudo, devido ao impacto climático, a área estudada precisará de mais tempo para atingir os níveis adequados de estoque de madeira para exploração. D’Oliveira ressalta que, embora a recuperação em termos de biomassa tenha sido satisfatória, a estrutura da floresta mudou significativamente, com uma maior quantidade de árvores jovens e menos árvores de grande porte.

Os estudos sobre dinâmica florestal, realizados no Acre há mais de 30 anos e na Amazônia há cerca de 50 anos, são considerados relativamente curtos para um entendimento completo da floresta. De acordo com Evaldo Muñoz, pesquisador da Embrapa Florestas, a pesquisa contínua é crucial para entender os efeitos de eventos climáticos extremos na regeneração de áreas manejadas e para desenvolver estratégias de manejo sustentável.

Os dados da pesquisa serão integrados a um banco de dados em construção, disponível pela Embrapa para pesquisadores e profissionais da área florestal. Análises contínuas sobre os impactos climáticos, como o El Niño, serão essenciais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e aprimorar as práticas de manejo sustentável.

 

Fonte e imagem : Agro em campo 


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