Guerra: Brasil debate riscos para segurança alimentar

Conflito entre Rússia e Ucrânia afeta setores produtivos no país e no mundo

01/06/2022 às 11:38 atualizado por Daniel Catuver - SBA | Siga-nos no Google News
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Sessão debate impactos da guerra na Europa para o Brasil
​​​​Imagem: Divulgação Câmara dos Deputados

Nessa terça-feira (31), a Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública para discutir os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia para o Brasil, principalmente no que diz respeito à elevação de preços e à escassez de alimentos e combustíveis. O debate, promovido pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, reuniu representantes do governo, do setor produtivo e especialistas em geopolítica e comércio internacional.

De acordo com o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos, do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Paulino Franco de Carvalho, o Brasil mantém uma posição de neutralidade e aposta na solução diplomática para o encerramento do conflito. O embaixador também criticou as sanções unilaterais impostas à Rússia, que podem colocar em risco a segurança alimentar de grande parte da população mundial. “Atingem produtos essenciais à sobrevivência de grande parte da população, como os fertilizantes de que nós no Brasil precisamos e são igualmente essenciais para garantir a segurança alimentar de países em desenvolvimento, que respondem por ¾ da população mundial”, afirmou.

Rússia é o maior fornecedor de produtos ao Brasil  
Foto: Wenderson Araújo/CNA-Senar

Durante a audiência, a Confederação Nacional da Agricultura ressaltou que o Brasil depende fortemente da Rússia para importação de fertilizantes que, em razão do conflito, registrou elevação de preços no país. Segundo a confederação, o governo tem buscado amenizar o problema com a procura de outros fornecedores, mas a medida tem se mostrado insuficiente.

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que foi uma das autoras do pedido para a realização da audiência, também acredita que o parlamento pode contribuir na busca por soluções diplomáticas para o conflito armado, que já dura mais de 3 meses.

Política Industrial

Para o professor da Escola Superior de Guerra, Ronaldo Carmona, o Brasil precisa investir na industrialização com o intuito de garantir o abastecimento de produtos estratégicos, como combustíveis e fertilizantes, e que a guerra é uma consequência de mudanças que já vêm ocorrendo na correlação de forças mundiais nas últimas décadas. “Todos os grandes países passam a considerar como prioridade o fator de segurança nacional no que diz respeito à obtenção de bens ou insumos críticos ou vitais. Essa é uma questão que o Brasil, certamente, precisa tirar lições no sentido de reconstrução de sua capacidade industrial”, destacou.

A falta de uma política industrial voltada para os interesses brasileiro também foi alvo de críticas do professor de pós-graduação em Economia Política Internacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Raphael Padula. O especialista afirma que a Petrobras, por exemplo, passou a ter uma gestão voltada para dar lucro aos acionistas e, não, para o abastecimento de combustíveis no mercado interno, além de não investir na produção de insumos para fertilizantes.

O professor acredita que a solução para o problema pode estar em buscar novos parceiros comerciais, inclusive no próprio continente sul-americano, onde há países com plantas ociosas que podem suprir a falta do produto provocada pela guerra no leste europeu. “O Brasil tem que buscar diversificar as importações com diferentes parceiros para não depender de um só país. E, ao diversificar as importações, buscar parceiros que sejam confiáveis do ponto de vista geopolítico, político e também logístico", disse.

Com informações e foto de capa da Agência Câmara de Notícias


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