Família de cacaueiros tenta se livrar da 'vassoura de bruxa'

Pai e filha adotam adubação orgânica e manejo controlado de plantas para reduzir prejuízos

25/05/2022 às 05:00 atualizado por Elaine Silva - SBA | Siga-nos no Google News
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Josiane Luz. Foto: Arquivo pessoal

Atualmente, o Brasil é o sexto produtor mundial de cacau com produção de 220 mil toneladas por ano. Mas, enquanto esse número é altamente positivo no cenário mundial de produção, cacaueiros do Nordeste sofrem com uma praga invasora - a "vassoura de bruxa" - que pode atingir os ramos das plantas, causar manchas em folhas e até deformar os frutos. 

A família da empresária Josiane Luz (foto) sempre esteve envolvida com a produção de cacau no interior da Bahia. O cultivo do fruto é a renda principal da casa e da propriedade, com a produção, venda e processamento do cacau. Mas, com a "vassoura", a família não encontrou solução a não ser eliminar plantas afetadas, que não produziam como antes, e investir na pecuária. 

A forma de comandar a roça prevaleceu até aos cuidados do pai João Santana Filho, de 62 anos. A chegada da pandemia da Covid-19, em 2020, foi uma oportunidade que Josiene encontrou para investir em um negócio próprio tendo como parceiro o seo João. A abertura de uma chocolateria em São Paulo (SP) foi o incentivo que o pai precisava para voltar a investir em cacau.

Josiane e o pai João, em um cacaueiro.
Foto: Arquivo pessoal

"O meu pai não tinha mais encanto pelo cacau. E eu investi no chocolate mesmo assim.Hoje temos uma chocolateria e ele não faz mais cacau convencional, como antes, nos tempos de meu avô João Santana. A gente produz cacau fino, com o benefício dos grãos para a produção de nosso chocolate. Assim, ele [seo João] voltou a plantar cacau há dois anos, porque temos uma linha de produção de cacau fino, diferenciado", contou Josiane. 

E o negócio está dando certo. “Hoje eu fabrico chocolate em São Paulo com o cacau do meu pai, da Bahia. A gente só tem aproximadamente de 8% a 10% das plantas de cacau que tínhamos lá em 2000 quando a propriedade era 'tocada' pelo meu avô”, relatou. 

Para controlar a praga e não voltar a arrancar pés de cacau, eles adotaram a adubação orgânica. "Utilizamos o próprio casqueiro do cacau como adubo e a poda constante, apesar do nosso plantio hoje ser pequeno. No [período] pós-safra há um preparo no cacaueiro com a poda para controle da praga, para que, na próxima safra, o pé sadio", revelou.

A família aposta, assim, na produção de cacau orgânico. “O conselho que a gente dá aos produtores é justamente investir no beneficiamento do fruto, transformando a roça em ambiente orgânico para vender [amêndoas] a chocolaterias que produzem seu próprio chocolate com mais qualidade. Isso só é possível com um bom manejo do cacaueiro para a produção de cacau fino”, orienta.

 

Falta de comunicação 

Conforme Josiane, seu pai não sabia de um projeto do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que promove testes com novos fungicidas, mais eficazes e menos invasivos para a produção de cacau. Foi a Prefeitura da Iguaí que revelou ao seo João algumas novas técnicas para o cultivo. “Temos bastante expectativa de controle, mesmo que a produção do meu pai continue pequena diante de outros produtores do Nordeste, e de enfrentar dificuldades de comunicação e de acesso a tecnologias e estudos”, enfatiza.

A empresária relata ainda a necessidade de que a informação dos testes do Mapa chegue aos cacauicultores da Bahia - a maioria que trabalha sozinho, com conhecimentos empíricos, passados de pai para filho. “Existe muito a se descobrir e também precisa haver mais comunicação para que as informações cheguem até os cacauicultores. No momento estamos trabalhando em um cenário paralelo, sozinhos, utilizando bastante a internet para saber como enfrentar a 'vassoura'”. 

 

Novos fungicidas

Lucimara Chiari, pesquisadora
Foto: Arquivo/Canal do Boi

No final do ano passado foi assinado um termo de cooperação técnica entre o Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), vinculado ao Mapa, e o Senar da Bahia, que resultou em testes dos novos fungicidas. Os testes começaram em abril deste ano e estão em fase inicial, com as primeiras aplicações e coleta de dados. 

Segundo a coordenadora-geral de pesquisa e inovação da Ceplac, Lucimara Chiari (foto) , os estudos vão levar dois anos na Bahia, o estado que mais sofre com a praga. “Os efeitos da vassoura na região foram devastadores em 2021, provocando queda de 75% da produção no Estado”, informou. 

Lucimara enfatizou que a perda de produção "depende muito do clone (enxertia de muda) usado e do manejo fitossanitário realizado pelo produtor". A coordenadora orienta que os produtores sigam as recomendações técnicas de pesquisas realizadas pela Ceplac. “Atualmente, as recomendações para controle da vassoura de bruxa incluem uso racional de fungicidas, remoção de tecidos infectados, uso de variedades de clones mais resistentes à praga e o controle biológico”, orienta. 

Vassoura de Bruxa. Foto: Biblioteca Incaper

 


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