“Melhoramento genético só tem razão se realmente chegar a toda cadeia produtiva”, diz pesquisador

Para o gerente do programa de melhoramento Geneplus, é necessário aproximar a genética entre rebanhos de seleção e comerciais

09/09/2020 às 10:42 atualizado por Thalya Godoy - SBA | Siga-nos no Google News
:

Entre 15 a 23 de agosto, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), realizou a ExpoGenética 360º. Foram nove dias de evento, realizado 100% virtualmente neste ano em razão da pandemia da Covid-19, e com transmissão televisiva diária pelo Canal do Boi. 

Conforme explica o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior, o evento proporcionou debates importantes sobre melhoramento genético das raças zebuínas, como o painel sobre genômica, um aspecto que ganha força cada vez mais. “Em seu terceiro ano, já ultrapassamos 100 mil genotipagens”, ele contabiliza.

“A feira reuniu mais de 50 criatórios com diferentes focos de seleção, desde qualidade da carne, fertilidade, equilíbrio entre avaliações genética e tipo; importante para garantir a variabilidade genética das raças”, afirma o líder da ABCZ.

A ExpoGenética 360º reuniu participantes de 59 países, distribuídos em 1.124 cidades. Durante os sete dias de evento, foram realizados 14 leilões, que movimentaram mais de R$ 34,5 milhões. No caso do leilão do Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens (PNAT), da ABCZ, a média do valor arrematado pelos animais dobrou em relação ao anterior, atingindo R$ 22,1 mil.

Atualmente na 13ª edição, a ExpoGenética acompanhou o melhoramento genético brasileiro na última década sendo palco destes resultados, demonstrando como e quanto o rebanho brasileiro continua evoluindo. “Acredito que o grande desafio é acelerar – cada vez mais – a disponibilização de dados genômicos que otimizem as avaliações e garanta o aumento da velocidade e a precisão do melhoramento genético”, Rivaldo Júnior explica.

Melhoramento genético brasileiro vem evoluindo com o uso de novas tecnologias, técnicas e pesquisa

Pesquisa
Os patamares alcançados são resultados de trabalho desenvolvido há anos que, em muitos casos, conta com o auxílio de programas de melhoramento, como o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), administrado pela ABCZ, e o Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte (Geneplus), feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária.

De acordo com o pesquisador da Embrapa da unidade Gado de Corte e responsável pela gestão e coordenação de pesquisa e desenvolvimento do programa Geneplus, Gilberto Menezes, os desafios no melhoramento genético são amplos e visam otimizar o uso mais eficiente de recursos na criação do gado, como de alimentação e água.

“[O bovino que passa pelo melhoramento genético] será um animal que requererá menor uso de medicamentos, por exemplo, e isso significa animais mais resistentes a parasitas. É uma série de questões de eficiência que levam a animais mais sustentáveis, produtivos e que também trarão melhorias para a sociedade”, esclarece o pesquisador.

Gilberto Menezes conta que desde os anos 60/70 o melhoramento genético brasileiro evoluiu com o uso de novas tecnologias, técnicas e pesquisa. “[Avaliação] saiu do olho apenas, passando a fazer testagem de animais, com as provas de ganho de peso, depois as DEPs - Diferenças Esperadas na Progênie, combinando com a formação de pedigree e as informações vindas das fazendas. Agora, mais recentemente, [temos] as informações genômicas para a geração de DEPs que vão permitir uma seleção mais apurada e adequada dos animais para diversas características importantes”, ele relata.

“Lá atrás a gente focava muito em ganho de peso, em carcaças mais pesadas. Agora, além disso, estamos focando em uma carcaça melhor em carne, reprodução mais eficiente e animais que usem alimentos e água de forma mais eficaz”, avalia o pesquisador da Embrapa.

Como um dos resultados comerciais da promoção do melhoramento genético em uma propriedade, há o reconhecimento e agregação de valor à marca. O gerente do Geneplus considera que é uma forma de reconhecer o compromisso que o criatório tem em oferecer animais com boa produtividade. “As avaliações genéticas dão segurança ao comprador para poder adquirir animais que atenderão ao mercado”, afirma.

Segundo o pesquisador, o Brasil precisa avançar na transferência de material genético das raças para o setor produtivo e aproximar a genética entre rebanhos de seleção e comerciais, a fim de fortalecer cada vez mais a pecuária e homogenizar o rebanho do país. “O melhoramento genético só tem razão se realmente chegar a toda cadeia produtiva de gado de corte. Ele não pode ficar restrito apenas aos criatórios que fazem a seleção, produzem essa genética, e que servirá para a produção de carne no nosso país. Isso ainda é um desafio que precisamos superar […] não faz sentido fazer seleção se isso não for transferir para a cadeia”, ele afirma.


Últimas Notícias