Fotos de gôndolas vazias em supermercados surgiram em diversos países nas últimas semanas. Itália, China, Espanha, Portugal, Alemanha e Estados Unidos, foram alguns exemplos de nações em que as pessoas correram ao comércio para fazer estoque de produtos, devido ao medo de desabastecimento de mantimentos provocado pela Covid-19. No Brasil, capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte repetiram o cenário internacional.
Em 18 de março, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, falou durante evento no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) sobre o compromisso do campo na manutenção do trabalho para assegurar o abastecimento no país. No mesmo sentido, em 3 de abril, ministros de 25 países da América Latina e Caribe assinaram documento que visa o desenvolvimento de ações que apoiem o funcionamento do sistema alimentar entre as nações.
Além destes compromissos, o setor de logística é fundamental para a manutenção dos serviços de abastecimento. De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), de 8 de abril de 2020, no Brasil há 712.773 registros emitidos para transportadores de veículos, distribuídos entre autônomos, empresas e cooperativas. Segundo a pesquisa de Impacto no Transporte Covid-19, realizada pela Confederação Nacional de Transporte (CNT), 92,4% do setor de transporte relata que foi afetado pela pandemia do novo Coronavírus.
Nas entregas, há dificuldade para desabastecer o caminhão com os estabelecimentos fechados em atenção ao período de quarentena. “A gente não tá conseguindo concluir as entregas, quem trabalha com alimento fica até mais fácil. Como o meu produto não é de tanta necessidade, eu trabalho mais com entregas em armazéns de construção, estão todos fechados”, relata o caminhoneiro Diógenes dos Santos, que trabalha há dez anos na área.
Diógenes é de Recife (PE) e percorre todo país para realizar entregas. Enquanto está na estrada, ele conta que a maior dificuldade é com os estabelecimentos fechados. “Os restaurantes nos postos estão fechados, alguns estavam doando marmitas, mas todos fechados. Lojas de borracharia e elétrica estão fechadas. A gente não parou, continuamos rodando, mas ficamos sem estrutura”, ele afirma.
Para o motorista de caminhão desde 2014, Jonas Soares, a adversidade é semelhante de Diógenes. Na última semana, tentou realizar entrega em Teresina (PI), mas os responsáveis pelo recebimento da mercadoria não atenderam. “Tá tudo fechado lá”, ele conta.
Apoio nas estradas
Tanto Diógenes como Jonas não conhecem ações governamentais relacionadas ao suporte de caminhoneiros nas estradas durante a pandemia do Coronavírus. “Às vezes, fico sabendo alguma coisa por grupo de WhatsApp”, conta Jonas, que não participa de sindicato e nem associação. “Por onde passei [Tocantins, Maranhão, Piauí e Pernambuco] não cheguei a ver nenhum”, relata Diógenes.
Como meio de oferecer suporte aos motoristas de caminhão, o Sest Senat (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), desde 27 de março promove uma mobilização nacional, com mais de 200 unidades espalhadas pelo país, que fazem distribuição de produtos de higiene e alimentação aos caminhoneiros, além de orientar sobre medidas de prevenção a Covid-19. Também haverá ações itinerantes com vans.
A mobilização é realizada em parceria com o Ministério da Infraestrutura, Polícia Rodoviária Federal, concessionárias de rodovias, empresas e entidades de transporte e órgãos públicos locais. A lista com os pontos de apoio é atualizada ao longo dos dias.
As informações sobre os pontos de apoio estão disponíveis no portal do Sest Senat e no aplicativo InfraBR Caminhoneiro, onde no menu “Coronavírus” são mostradas as unidades de distribuição dos kits e estabelecimentos abertos como restaurantes, postos de combustível, borracharias e oficinas. No aplicativo também há um questionário para avaliação da saúde do motorista. De acordo com as informações no InfraBR, os dados coletados ajudarão o Governo Federal a otimizar ações voltadas aos caminhoneiros.
Junto ao poder público, a sociedade civil também tem feito mobilizações para apoiar os caminhoneiros. Na região norte de Mato Grosso do Sul, o grupo no WhatsApp “Pecuária MS”, juntou recursos para compra de ovos de Páscoa para os motoristas. “174 pessoas participam do grupo e ali tem agricultores, pecuaristas, pessoas voltadas ao agronegócio, então todo mundo se empenhou e doou um valor”, conta o médico veterinário Leonardo Garcia, que esteve envolvido na ação.
O grupo no aplicativo de conversas existe há três anos e a ideia de presentar os caminhoneiros surgiu há algumas semanas e, desde lá, os recursos foram coletados. A distribuição ocorreu no último sábado (10) e contou com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF).