Esta semana, o Porto de Paranaguá embarca a primeira carga de “farelo” produzido pelo processamento do milho para o etanol. Conhecido no mercado como DDGS, a operação será um teste para que o produto passe a entrar na rotina das exportações paranaenses a granel. Neste primeiro lote, 27,5 mil toneladas serão levadas ao Reino Unido, Inglaterra, pelo navio Interlink Acuity.
“Ficamos animados quando a demanda surgiu e, mais ainda, quando esta operação foi confirmada. É uma oportunidade de ampliação de negócios não apenas para o porto e operadores, mas, também, para a indústria do Estado”, afirma o presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.
O navio que vai receber a carga (que em inglês usa a sigla para Grãos Secos de Destilaria com Solúveis/ Dried Distillers Grains With Solubles) chegou na última segunda-feira (16) e está programado para atracar e iniciar o carregamento, no berço 212, no Corredor de Exportação, no próximo dia 22.
“O produto é novo. Nunca foi exportado pelo Porto de Paranaguá. Nessa operação, vai utilizar as nossas correias e a infraestrutura do Corredor de Exportação”, afirma o diretor de operações, Luiz Teixeira da Silva Junior.
De acordo com Teixeira, qualquer novo produto que se agrega às operações portuárias anima toda a cadeia. “Principalmente quando se enxerga que este é um segmento que vai crescer ainda mais. O produto só vem a somar à capacidade do Corredor de Exportação; nos preparamos para essa demanda”, completa.
Operação
O lote já está completo e armazenado no terminal da Cimbessul, em Paranaguá. Segundo o coordenador de operações portuárias Ronaldo Zucarelli, foram 700 caminhões que descarregaram o DDGS nos armazéns da empresa. O produto está segregado no armazém, como exigido pelo comprador.
Como explica Valmir Pedro Adamante, diretor executivo do terminal, a movimentação desse subproduto do milho é novidade para o setor. “É um desafio que a gente assumiu. A gente está com espaço sobrando e resolvemos encarar o processo e esperamos ter sucesso nesse embarque”, afirma.
Esse, segundo ele, será um primeiro teste, mas as perspectivas são boas. “Pelo que a gente vê de crescimento na produção do Brasil. Este é um negócio que vai andar forte nos próximos anos. Estamos animados”, comenta.
O diretor afirma que são vários os países que já demonstram interesse no produto, pois o DDGS já vai processado e pronto para o consumo. “Vai ser um negócio interessante, que vai competir com o mercado do farelo da soja e vai crescer muito”, anima-se Adamante.
Box
O DDGS, é um coproduto do processamento do milho para a fabricação de etanol, é o que sobra do grão. Esta primeira carga é do Mato Grosso, mas esse passo da indústria daquele Estado anima a única usina que produz etanol a partir do grão no Paraná.
Segundo o gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí (Cooperval), Claudinei José Vesco, o fato de haver condições de exportar o DDGS pelo Estado é um avanço. “É uma grande novidade e muito positiva para o setor. Não tenho dúvidas que será ótimo para ampliarmos o processo e a produção”, afirma.
Como conta Vesco, a Usina, localizada em Jandaia do Sul, começou a produção em 2018. No ano passado, foram 17 mil toneladas de milho processadas para produzir cerca de 7 mil m³ de etanol. “Este ano, tivemos um salto muito grande. Estamos fechando com aproximadamente 90 mil toneladas de milho processado e uma produção de mais de 36 mil metros cúbicos de etanol”, comemora.
Para 2020, a expectativa da Usina é processar cerca de 150 mil toneladas de milho, aumentando a produção do etanol e as oportunidades de comercializar subprodutos como o DDGS.
“Ano após ano, vimos melhorando o processo e abrindo novos mercados. Por enquanto, ainda somos os primeiros e os únicos a produzir etanol de milho do Estado, mas sabemos que esta é uma tendência, que deve gerar novas plantas”, completa.
Produto
Como explica ainda o representante da Cooperval, para a produção do etanol, o milho precisa ser moído, transformando-se numa espécie de farinha. “Esta vai para um processo como um cozimento até virar o etanol. O que sobra é um produto como um fubá um pouco mais grosso. Esse passa por um novo processo, de secagem, e chegamos ao DDGS”, conta.
O produto, segundo ele, tem mais de 30% de proteína, excelente para alimentação animal. “Já produzimos este produto para o mercado interno, de pequenos consumidores, mas temos condições totais de atender uma demanda maior, inclusive do mercado externo”, conclui o gerente comercial.
Etanol
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total de etanol à base de milho no Brasil deverá atingir, na safra 2019/20, 1,35 bilhão de litros, representando acréscimo de 70,3% em relação ao exercício anterior.
Apesar de ter apenas uma Usina, o Paraná é o terceiro Estado produtor do biocombustível, atrás do Mato Grosso e de Goiás. Segundo a Companhia nacional, da safra 2018/2019 para a 2019/2020, a produção no Estado aumentou 467,3%, passando de 9.569 litros para 54.288.
“O menor custo de produção do etanol à base de milho, a crescente produção do milho segunda safra e a forte demanda dos segmentos produtores de proteína animal foram alguns dos motivos pelos quais as indústrias aderiram ao novo modelo de negócio”, traz a Conab em boletim.
Uma tonelada de milho é capaz de produzir 420 litros de etanol e 300 quilos de DDGS.
Foto de capa: Divulgação Portos do Paraná