“Elas querem produzir, vender seu produto, receber e aplicar na sua vida e da família”

Conheça a associação de mulheres rurais que estimula o trabalho coletivo feminino para geração de produtos e renda

17/10/2019 às 10:57 atualizado por Thalya Godoy* - SBA | Siga-nos no Google News
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Produtos são fabricados a partir de materiais com princípios agroecológicos. Foto por: Hédio Fazan

Na última terça-feira (15), foi celebrado o dia internacional das mulheres rurais. Segundo a ONU Mulheres, elas são responsáveis por 45% da produção de alimentos no Brasil e nos países em desenvolvimento. A Associação de Mulheres Rurais-Força Feminina foi fundada em Dourados, no interior do Mato Grosso do Sul, no ano de 2010. Nasceu do desejo das mulheres saírem dos lares, em busca do empoderamento econômico e um trabalho do qual gostassem. Os produtos, vindos do trabalho de agricultura familiar, utilizam materiais com princípios agroecológicos. 

O grupo que chegou a contar com 100 mulheres, hoje enfrenta dificuldades para comercializar os produtos, sobretudo o artesanato. Atualmente, como explica a presidente, Cleusa da Silva Morais dos Santos, estão no Museu da Colônia Agrícola e são responsáveis pela administração do espaço. Confira a entrevista do Canal do Boi sobre a associação.

C.B: Como a associação foi fundada? Partiu de uma ideia, necessidade?
Cleusa: De algumas amigas na época. Depois de participarem de uma reunião para mulheres, se sentiram entusiasmadas para montar uma associação no intuito de fazer alguma atividade que envolvesse mulheres rurais. Sempre em casa com os mesmos afazeres do dia a dia, sem expectativas de vida, quase sem sonhos, voltadas apenas para o lar. Alguma coisa que pudesse devolver a elas a vontade de fazer algo, a satisfazessem e, ao mesmo tempo, gerasse alguma renda para ajudar sua família.

C.B: No início, quais eram as maiores necessidades das mulheres que faziam parte da associação? E quais são hoje em dia?
Cleusa: Elas queriam um pouco de alegria, sentiam-se muito sozinhas, mas, ao mesmo tempo, gerar renda para que tivessem uma melhor qualidade de vida. Hoje falta incentivo do poder público, locais e formas de comercialização, pois algumas pararam de produzir artesanatos por não conseguir vender os produtos. Estão cada vez mais desmotivadas, precisando de uma injeção de ânimo.

C.B: Quais eram as atividades no começo da associação? Quantas pessoas faziam parte?
Cleusa: Produção de doces, conservas, artesanatos, envolvendo várias matérias-primas, como fibra de bananeira, palha de milho, sementes e outros. Chegamos a ter quase a 100 associadas.

Elaborado por: ONU Mulheres

C.B: Quais são as atividades que desenvolvem hoje em dia? 
Cleusa: As atividades desenvolvidas hoje pelas associadas são menores do que foram no passado. Mas elas ainda produzem doces, conservas, vários tipos de artesanatos, inclusive com fibras de bananeira e palha de milho. Algumas atividades são voltadas para comunidade como cursos que as associadas dominam.

C.B: Quais são os objetivos da associação?
Cleusa: Os objetivos são conseguir algumas parcerias ou projetos voltados para comercialização dos produtos. Esse é o maior objetivo para alavancar e continuar dando força e entusiasmo para elas continuarem a produzir.

C.B: Como funciona o trabalho com uso de matérias-primas produzidas sob princípios agroecológicos?
Cleusa: A matéria-prima usada nos artesanatos com princípios agroecológicos são produzidas nos sítios das associadas e depois dispõe para aquelas que não tem como produzir.

C.B: Vocês realizam trabalhos para empoderamento das mulheres rurais? Como funciona?
Cleusa: Fazemos na medida do possível. Procuramos trazer algumas palestras, algumas pessoas de fora para falar sobre o trabalho e o valor da mulher na sociedade e na família.

C.B: Quais são as maiores dificuldades da associação?
Cleusa: Temos muitas dificuldades. A principal é manter a associada interessada e com vontade de produzir, uma vez que temos menos incentivos para produção e comercialização. Elas querem produzir, vender seu produto, receber e aplicar na sua vida e da família. Muitas vezes precisam apresentar resultados imediatos em casa para o marido e família para que continue com o apoio para continuar, porque na maioria das vezes tem que enfrentar o marido para buscar esse espaço. Então, temos um local de comercialização, no Museu da Colônia Agrícola cedido pela prefeitura de Dourados, que fica entre a Vila São Pedro e Indapolis na MS 276, mas o movimento não é tão grande, principalmente, para o artesanato. Buscamos sempre com a prefeitura algum projeto que desenvolva esse turismo, com vistas no museu para que a gente também possa comercializar nossos produtos. A associação de mulheres ganhou a cedência desse espaço do Museu da Colônia Agrícola de Dourados. É administrado pela associação e não recebemos nenhum salário ou qualquer ajuda de custo. Comercializamos nossos produtos no museu e cuidamos, revezando mulheres todos os dias pra cuidar também do museu e de toda sua administração. Temos uma lanchonete e servimos refeições, além de produtos como doces, conservas e também uma sala de artesanato.

 

*Texto supervisionado por Douglas Ferreira


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