"Nós alimentamos o mundo"

A pesquisadora americana Mary Temple Grandin está em Campo Grande (MS) desde quarta (25) e, nesta quinta-feira (26), visitou a fazenda Pecuária BR, que é propriedade do Canal do Boi, considerada vitrine de tecnologia e referência em eficiência produtiva e boas práticas de manejo. 

A pesquisadora já esteve no Brasil em outras oportunidades, mas esta é a primeira vez que visitou a fazenda e conheceu as instalações do curral que segue seu método de manejo do gado. Durante a visita, Grandin concedeu entrevista exclusiva ao Canal do Boi e explicou que o manejo racional envolve práticas que não assustam os animais, além de operar seguindo o tempo do animal, sem forçá-los a obedecer. "Logo que você traz os animais para o curral, você tem uma oportunidade de trazê-los de uma forma bem calma. Se eles voltarem, torna-se um problema".

A especialista garante que a preocupação com o bem-estar animal é mais do que melhorar o manejo, pois investir neste processo significa aumentar a produtividade. "O bem-estar animal é importante porque o animal sente medo, sente dor. Se você trata bem os animais, você melhora as suas condições de vida e, ao mesmo tempo, a produtividade".

O Brasil, como um dos maiores exportadores de carne bovina, tem buscado adotar as inovações em tratamento de animais vivos para garantir que a carne mantenha qualidade. Temple Grandin enfatiza a importância de toda a produção agropecuária, principalmente integração de pecuária-lavoura, como forma de alimentar o mundo.

Para a doutora em Ciência Animal, as faculdades de zootecnia e medicina veterinária têm responsabilidade na adoção do manejo humanitário ao garantir que os jovens estudantes conheçam as boas práticas e realizem pesquisas sobre o assunto. "Os jovens estão cada vez mais dispostos a trabalhar na parte de bem-estar animal e no meio ambiente de forma geral", conta.

Sobre a pesquisadora

Temple Grandin ficou mundialmente conhecida por desenvolver uma prática revolucionária de manejo de animais vivos em fazendas e abatedouros. O método conhecido como “lida gentil”, proporciona melhor qualidade de vida ao rebanho durante todas as etapas de confinamento, o que gera menos estresse aos animais. A utilização desta prática, que é humanitária, também eleva a qualidade da carne.

Desde 1984, Mary Temple é premiada pelas contribuições à produção animal em fazendas e abatedouros. Metade dos Estados Unidos e Canadá utilizam as instalações criadas pela pesquisadora, principalmente para o abate de bovinos. A também doutora em zootecnia inovou ao compreender o comportamento dos animais e captar detalhes que os aflingiam nos ambientes em que eram colocados. Esta grande capacidade, segundo ela mesma constatou em publicações sobre o assunto, é devido à Síndrome de Asperger - que é um tipo de autismo de alta funcionalidade diagnosticado ainda durante sua infância.
 

*Texto com supervisão de Jorge Zaidan.