“Esse é mais um exemplo da falta de diplomacia brasileira e de visão estratégica do governo!” Assim o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, Tirso Meirelles, classificou a decisão americana de impor tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras e a falta de agilidade do governo em buscar o diálogo. Vale lembrar que os Estados Unidos estão entre os principais mercados para os produtos nacionais, tendo representado cerca de US$ 40 bilhões em 2024.
O anúncio do presidente Donald Trump escancara a falta de assertividade e visão da diplomacia brasileira em antecipar e negociar medidas que afetam diretamente setores estratégicos da economia nacional. Em um cenário global cada vez mais protecionista, a capacidade de estabelecer diálogo rápido e eficaz com parceiros comerciais torna-se essencial. No entanto, o Brasil parece ter adotado uma postura reativa, limitando-se a protestos formais após o anúncio das medidas, sem demonstrar esforços prévios consistentes de mediação ou busca por convergência de interesses.
‘É muito importante que o governo entenda que esse tipo de ação impacta não apenas nas exportações, mas em toda a cadeia econômica, que começa na geração de empregos. É extremamente importante que questões políticas sejam colocadas de lado e o foco recaia sobre a importância dos Estados Unidos no saldo da nossa balança comercial”, explicou Meirelles.
Essa morosidade diplomática tem impactos concretos sobre o agronegócio e a indústria, especialmente em segmentos que dependem fortemente do mercado norte-americano. Produtos como aço, alumínio, etanol e commodities agrícolas, como café verde, que representou US$ 1,9 bilhão em 2024; a celulose (US$ 1,5 bilhão); a carne bovina in natura (US$ 885 milhões); e o suco de laranja (US$ 637 milhões), entre outros, podem perder competitividade, afetando não apenas os exportadores, mas toda a cadeia produtiva, incluindo empregos e arrecadação fiscal. O agronegócio, que sustenta boa parte da balança comercial brasileira, pode sofrer perdas importantes caso barreiras tarifárias se tornem uma constante sem contrapartidas diplomáticas eficazes.
Além de refletir uma falta de prontidão nas relações bilaterais, a situação também revela a ausência de uma estratégia diplomática integrada, que combine política externa com os interesses comerciais internos. O Brasil precisa adotar uma postura mais ativa nas mesas de negociação, fortalecendo canais de diálogo permanentes com os EUA, assim como os demais parceiros, e utilizando os acordos multilaterais e fóruns internacionais como ferramentas de pressão e defesa. Sem essa articulação ágil e estratégica, o país seguirá vulnerável a decisões unilaterais que comprometem sua competitividade no comércio internacional.
“Como a previsão é que as tarifas sejam implementadas em agosto, há espaço para que o governo consiga se articular, por meio de seu corpo diplomático, de técnicos de ministérios estratégicos, como da Agricultura e Agropecuária e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e executivos de empresas que tenham forte representação no território nacional. Entendo que o confronto levará a prejuízos incalculáveis para a Nação”, concluiu Tirso Meirelles.