O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) tarifa de 50% para os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos a partir dia 1.º de agosto. Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump cita como justificativa para o tarifaço "centenas de ordens de censura secretas e injustas para plataformas de mídia social dos EUA" e o que classificou como uma "caça às bruxas" que o ex-presidente Jair Bolsonaro estaria sofrendo em razão do processo no qual é réu por tentativa de golpe de Estado.
Nesta semana, Trump já havia imposto novas taxas de no máximo 40% a 21 países - inclusive aliados históricos, como Japão e Coreia do Sul. Além da alíquota mais alta, o Brasil foi o único país sobre o qual o americano justificou o tarifaço com um argumento político, e não estritamente comercial.
Não há desvantagem dos EUA na balança comercial que pudesse justificar sobretaxa. Pelo contrário: a economia americana obteve superávit comercial de US$ 650 milhões com o Brasil no primeiro trimestre. Ainda assim, o Brasil já é alvo de tarifas setoriais de 50% para aço e alumínio.
Conforme o New York Times, a decisão em taxar o Brasil "parece mostrar como as disputas pessoais de Trump podem influenciar sua política externa".
Para o CEO da consultoria Eurasia, Ian Bremmer, a medida tem o objetivo de "interferir na política interna do Brasil". "Seria intolerável para os líderes políticos americanos (republicanos e democratas) se outro país tentasse isso nos Estados Unidos", disse Bremmer, em seu perfil da rede social X.
O governo brasileiro também avaliou que há "politização" na medida.
Ameaças
Mais cedo, Trump havia dito que imporia novas tarifas ao Brasil porque o País "não tem sido bom" para os americanos. Desde o começo da semana, Trump ameaçava taxar importados brasileiros.
No domingo, ele afirmou que países que se alinhassem ao Brics - bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã - seriam taxados. Na terça, 8, ele voltou ao assunto e afirmou que os membros do grupo seriam alvo de um tarifaço, pois estariam tentando fustigar o dólar e, por isso, "pagarão um alto preço".
Após a divulgação da tarifa de 50% para o Brasil, o dólar para agosto rompeu a barreira dos R$ 5,60. O Ibovespa, o principal índice da B3, a Bolsa de São Paulo, desceu aos 137 mil pontos, fechando em baixa de mais de 1%, arrastado por commodities (matérias-primas em dólar) e pelo setor financeiro. O dólar à vista encerrou o dia em R$ 5,5024, alta de 1,04%. A reação dos segmentos à vista de ações e câmbio é esperada para esta quinta-feira, 10.