O Ibovespa chegou ao meio da semana em baixa pela terceira sessão, devolvendo mais dois degraus na escalada que o havia levado, na sexta-feira passada, dia 4, ao recorde de 141 mil pontos. Após ter fechado na terça-feira, 8, aos 139 mil, o índice da B3 recuou nesta quarta-feira, 9, para o patamar dos 137 mil pontos, pressionado em especial a partir do meio da tarde por novos sinais protecionistas do presidente Donald Trump, inclusive ao Brasil.
No fechamento desta quarta-feira, o Ibovespa mostrava perda de 1,31%, aos 137.480,79 pontos, menor nível desde 27 de junho, com giro a R$ 22,5 bilhões na sessão desta quarta. Da mínima à máxima do dia, oscilou dos 137.299,04 aos 139.330,70, saindo de abertura aos 139.302,85 pontos. Na semana, acumula até aqui perda de 2,68%, passando assim ao negativo no mês (-0,99%). No ano, sobe 14,30%.
Depois do fechamento do índice à vista, o Ibovespa futuro mostrava perda ainda maior, na casa de 2,5%, com a divulgação de carta emitida pelo presidente Trump em que não apenas volta a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro do que, segundo ele, seria uma "caça às bruxas" movida pelas instituições brasileiras, como também impõe uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que chegam aos Estados Unidos.
Mais cedo, em desdobramento já negativo para a percepção de risco, especialmente para emergentes como o Brasil, Trump afirmou que mais cartas sobre tarifas serão enviadas ainda nesta quarta-feira a parceiros comerciais. Ele reiterou, contudo, que tem uma boa relação com o presidente da China, Xi Jinping, e que o país já está pagando muitas tarifas para os EUA. Os comentários foram feitos em coletiva durante almoço com líderes africanos na Casa Branca.
Antes, Trump havia anunciado alíquota tarifária de 30% para o Sri Lanka, um pequeno país insular do Oceano Índico. Foi o sétimo a receber a carta sobre tarifas apenas nesta quarta-feira. Ele anunciou ainda tarifas para Argélia, Filipinas, Líbia, Iraque, Moldávia e Brunei. Outros 14 países, entre os quais o Japão e a Coreia do Sul, grandes parceiros dos Estados Unidos, também já foram notificados sobre as alíquotas.
Os desdobramentos em torno da política comercial dos EUA lançaram o Ibovespa às mínimas da sessão, em sentido oposto ao das bolsas americanas nesta quarta-feira, mesmo com a relativa perda de ritmo das bolsas de Nova York na etapa vespertina. Assim, dos 84 papéis da carteira teórica do índice, apenas oito encerraram o dia no campo positivo, com destaque para Braskem PNA, em alta de 6,02%.
As ações da Braskem chegaram a entrar em leilão após alta de mais de 10% durante a sessão. O forte avanço decorreu da aprovação da urgência, na Câmara, do projeto de lei que cria o Programa Especial para a Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq). Se aprovada, a iniciativa deve acrescentar cerca de US$ 450 milhões por ano ao Ebitda da companhia, reporta a jornalista Talita Nascimento, do Broadcast. No setor químico, o entendimento é de que o fluxo de notícias dos últimos dias ajuda a criar uma leitura mais positiva para a companhia.
No noticiário mais amplo, além do anúncio de tarifas, mais cedo Trump tinha indicado que o número do Brasil viria entre hoje e amanhã, ao responder a uma pergunta sobre as cartas que estão comunicando aos parceiros asados.
"Dia um pouco mais complicado para os mercados locais com os ruídos em torno das tarifas, e com o Trump bastante vocal em relação a tarifar também o Brasil. Há uma dinâmica para emergentes, que afeta o Brasil, enquanto se vê ainda um apetite por risco em Nova York, em especial para a tecnologia, em papéis como o de Nvidia", diz João Piccioni, CIO da Empiricus Asset. Nesta quarta-feira, o índice de tecnologia, Nasdaq, renovou recorde de fechamento, em alta de quase 1%.
Mesmo com o ajuste em curso, diz Piccioni, o Ibovespa segue em nível "bastante razoável", considerando o desempenho do ano. "Mas aqui estamos nessa dinâmica das tarifas, que traz um pouco de aflição aos investidores", em meio a outros sinais externos, favoráveis, que contribuem para avanço dos mercados de fora.
Nesse contexto, o mercado elevou ainda que levemente, nesta tarde, a chance de retomada nos cortes de juros pelo Federal Reserve em setembro, e manteve como probabilidade principal uma redução acumulada de 50 pontos-base até o fim do ano, segundo ferramenta de monitoramento do CME Group. A precificação ocorre após a divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, a qual ainda indicou preocupação com a incerteza e a inflação.
Em Nova York, os principais índices acionários fecharam o dia com ganhos entre 0,49% (Dow Jones) e 0,94% (Nasdaq) na sessão. Na B3, além de Braskem, destaque neta quarta-feira para Vamos (+2,31%) e BRF (+1,67%). No campo oposto, PetroReconcavo (-5,36%), Marfrig (-4,73%) e CVC (-4,51%). Entre as blue chips, Vale ON cedeu 0,99% e as perdas em Petrobras ficaram em 1,45% (ON) e 0,62% (PN). Nos grandes bancos, o ajuste do dia chegou a -2,07% (Itaú PN) e -2,50% (BB ON) no fechamento.