A cadeia agroindustrial da mandioca no Brasil está passando por uma série de transformações significativas que impactam todos os elos do setor, impondo desafios e oportunidades para os produtores e industriais. A atividade possui um grande potencial, especialmente devido ao aumento da demanda por amidos, um setor onde o Brasil se destaca fora da Ásia.
Embora o milho continue sendo a principal fonte de amidos globalmente, a produção de fécula de mandioca tem avançado, principalmente devido ao menor custo de extração. Nos últimos anos, a indústria de mandioca no Brasil tem experimentado mudanças notáveis, com um foco crescente na melhoria da qualidade e na diversificação dos produtos oferecidos. Em 2023, 45% das unidades industriais não apenas produziram fécula, mas também amidos modificados, polvilhos, e misturas para pão de queijo, entre outros produtos.
Entre 2011 e 2023, o consumo médio de mandioca no Brasil foi de aproximadamente 555,3 mil toneladas por ano, ajustado à produção durante a maior parte desse período. De acordo com dados da Cepea e da Abam (Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca), a produção de fécula aumentou de 400 mil toneladas em 2000 para 676,7 mil toneladas em 2023, com um crescimento médio anual de 0,7%. No primeiro semestre de 2024, o volume produzido já ultrapassou 476 mil toneladas, indicando que este ano pode ser um dos melhores da série histórica iniciada em 1990.
Este crescimento apresenta dois grandes desafios para o setor industrial: primeiro, é necessário aumentar ainda mais a produção de fécula, o que exige melhorar a eficiência das fábricas, que operam atualmente com uma capacidade instalada apenas 50% utilizada. Segundo, é vital ampliar a participação da mandioca em mercados internacionais de amidos. Para enfrentar esses desafios, é fundamental implementar mecanismos de governança que reduzam desequilíbrios entre oferta e demanda e a volatilidade de preços.
A produção de mandioca tem mostrado recuo na maioria das regiões do Brasil, com exceção das áreas onde se concentra a industrialização, principalmente para a produção de fécula. Entre 2000 e 2024, a produção de mandioca no Brasil caiu a uma média anual de 1,5%, influenciada por uma redução de 2% ao ano na área colhida, embora a produtividade média tenha aumentado 0,6% ao ano. A região Nordeste sofreu uma queda de produção de 4,5% anuais devido a adversidades climáticas e à necessidade de melhorias tecnológicas. Em contraste, o Centro-Oeste apresentou um crescimento de 0,5% ao ano.
A resposta para esses desafios tem vindo através da pesquisa e desenvolvimento de novas variedades e técnicas de manejo. Instituições como a Embrapa Mandioca e Fruticultura, o Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR Paraná) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) têm trabalhado para melhorar as condições regionais e aumentar a produção.
Outro desafio recente é a escassez de mão de obra para a colheita da mandioca, o que tem levado à necessidade de mecanização. Apesar de a mecanização ser uma solução promissora, ela exige alterações no manejo e investimentos em capital.
A indústria de fécula pode expandir em estados como Paraná e Mato Grosso do Sul com a instalação de novas unidades nos próximos anos. No entanto, a oferta de matéria-prima não está crescendo na mesma proporção, com a produção se concentrando cada vez mais em estados produtores de fécula e farinha. Atualmente, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo respondem por 34% da produção nacional, um aumento de mais de 10 pontos percentuais nos últimos 20 anos.
Apesar das melhorias, a produtividade da mandioca no Brasil ainda está abaixo do potencial máximo. Aumentar a oferta através da melhoria da produtividade requer planejamento, pesquisa e gestão eficazes, o que pode elevar a competitividade dos amidos de mandioca tanto no mercado doméstico quanto internacional.
Fonte: Cepea