As florestas plantadas já ocupam área aproximada de 2 milhões de hectares no Estado, conforme cálculo da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore MS).
Na última década as áreas ocupadas com eucalipto e seringueira em Mato Grosso do Sul cresceram a taxas anuais muito expressivas, respectivamente 14% e 18%. Com três indústrias de celulose em atividade, uma quarta, a maior do mundo, da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, prestes a entrar em operação e uma quinta que começa a ser construída em Inocência – da Arauco – a tendência é que a silvicultura amplie continuamente a área, rivalizando com culturas tradicionais como a soja e o milho.
Outro setor que começa a expandir e promete ter rápido crescimento em Mato Grosso do Sul é a citricultura. Com os laranjais paulistas comprometidos pelo greening, ou “doenças do ramo amarelo”, muitos produtores atravessaram o rio Paraná e estão implantando pomares gigantes no Estado. Já são mais de 15 mil hectares ocupados pela citricultura na Costa Leste e outros projetos devem ser viabilizados em breve.
Além das florestas plantadas, Mato Grosso do Sul tem um remanescente florestal nativo bem superior à de outros estados vizinhos. E com tantas árvores, é natural o surgimento de produções associadas para aproveitar todo esse potencial. Nesse caso, a apicultura tem se mostrado uma alternativa viável, rentável e atrativa, sobretudo para os pequenos produtores rurais, avalia a gestora de Desenvolvimento Rural da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Francimar Perez.
A apicultura é uma atividade consolidada e está em expansão no Estado, assegura Francimar Perez. As próprias empresas de celulose incentivam os pequenos produtores a criarem abelhas próximo às florestas plantadas, patrocinando projetos, fazendo doação de colmeias e equipamentos para manejo.
Apesar do enorme potencial, ainda há muito a crescer: em 2021, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso do Sul figurava em 11º lugar entre os maiores produtores de mel do País, com 903 mil quilos de mel/ano. Muito longe do primeiro colocado, o Rio Grande do Sul, com 9,2 milhões de quilos. A boa notícia é que, entre 2010 e 2021, a produção de mel no Estado teve aumento de 176,22%.
De olho nesse potencial e visando impulsionar a atividade, desde o ano passado Mato Grosso do Sul tem o Plano de Fortalecimento da Cadeia Produtiva da Apicultura e da Meliponicultura, elaborado pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), através da Câmara Setorial Consultiva de Apicultura. Em 2023, conforme dados da Agraer, havia mais de 44 mil colmeias registradas no Estado e cerca de mil produtores de mel.
Em Mato Grosso do Sul existem 27 unidades de beneficiamento de produtos de abelhas pertencentes a associações de apicultores, sendo que sete estavam inativas na época do levantamento, em 2023. A maioria do mel produzido aqui é exportado, sendo que uma grande quantidade atravessa as divisas em Estado bruto, sendo processado, envasado e rotulado em outros estados e perdendo, dessa forma, sua origem.
Abelhas sem ferrão
O mel está associado ao trabalho da abelha. E é fato que as maiores produtoras de mel são as abelhas da espécie apis melífera, ou abelha Europa, que formam colmeias numerosas e são dotadas de ferrão.
Mato Grosso do Sul tem mais de 30 espécies de abelhas sem ferrão e que produzem mel de excelente qualidade. A Agraer desenvolve pesquisas com essas abelhas e já implantou dois meliponários: um no Parque das Nações Indígenas e outro no campus da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) de Aquidauana.
O meliponário do Parque das Nações Indígenas foi implantado em 2023. São 36 caixas contendo colmeias de 12 espécies diferentes: Tetragonisca fiebrigi (Jataí), Tetragona clavipes (Borá), Scaptotrigona sp. (Mandaguari), Leurotrigona muelleri (lambe-olhos), Plebeia remota (Mirim-guaçu), Plebeia lucii (Mirim Luci), Melipona orbignyi (Manduri do Mato Grosso ou Mandaçaia Pantaneira), Frieseomelitta varia (Marmelada), Melipona rufiventris (Uruçu Amarela), Melipona quadrifasciata quadrifasciata (Mandaçaia), Nannotrigona testaceicornis (Iraí) e Plebeia julianii (Mirim Juliani), todas ativas.
O projeto é financiado com recursos do Fundo de Defesa e Reparação de Interesses Difusos e Lesados (Funles) e tem apoio da Associação Leste Pantaneira de Apicultores (Alespana). Para grupos, é possível fazer visita guiada ao meliponário com agendamento pelo telefone (67) 3318-5137.
Um técnico da Agraer acompanha e explica as características de cada espécie, podendo ter até degustação de mel, afirma Francimar. O meliponário atua como uma vitrine do potencial das abelhas sem ferrão e espaço de educação ambiental e capacitação em criação de abelhas para atividade econômica.
Informações e imagem: Semadesc