Entre o céu e o inferno, publicitário planta mogno africano no paraíso

Atividade preserva árvores nativas e reduz a emissão de carbono na atmosfera

10/08/2023 às 14:27 atualizado por Thiago Gonçalves - SBA | Siga-nos no Google News
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Em tempos de sustentabilidade e efeitos de mudanças climáticas, donos de terras buscam alternativas de preservação do meio ambiente, e também assegurando lucros. Nos arredores de Campo Grande (MS), em uma região conhecida como Vale do Paraíso, localizada entre o Ceuzinho e o Inferninho, o silvicultor e publicitário Saulo Flores Sampaio decidiu realizar o sonho de viver na área rural e buscar algo que garantisse renda. 

Na época, ouviu falar da produção do mogno africano - árvore nobre plantada pela primeira vez no Brasil há pouco mais de 20 anos, no Estado do Pará, e que é considerada "queridinha" de silvicultores porque preserva florestas nativas do Brasil, tornando-se boa alternativa para evitar o corte de espécies também nobres que, inclusive, correm risco de extinção.

Para quem quer investir dinheiro e tempo no cultivo de florestas através do manejo agrícola, para produzir madeira e outros derivados que atendam às necessidades do mercado, o mogno africano é uma boa opção porque oferece retorno após 12 anos do plantio - tempo considerado bom para a atividade.

Entre as linhas da floresta plantada, Saulo revela que começou uma pesquisa na internet e que fez um curso sobre a atividade até encontrar apoio em uma empresa sediada em Goiás, especializada na produção e venda de mudas, onde conseguiu parte de consultoria e que comprou as primeiras mudas de sua plantação.

“O pessoal da empresa [Selva Florestal] é bem atencioso. Daí foi só comprar a área e separar o hectare para plantar meu sonho. De início, foram 1.200 mudas plantadas e, em 20 anos, devemos colher a primeira leva da produção de madeira”, disse. 

Carbono

O produtor acredita que a atividade além de fazer “um bem” à natureza, será uma forma de investir no “pé de meia” de sua família e conquistar a tão sonhada aposentadoria. “A ideia é plantar e espaçar de três em três anos para que, nestes 20 anos, além de ter o lucro, possa contribuir também com o reflorestamento, a preservação de árvores nativas e reduzir a emissão de carbono na atmosfera”, acrescenta.

Reflorestamento

Com a experiência adquirida no primeiro hectare de mogno, o produtor afirma que irá continuar com o reflorestamento em sua propriedade. “Meu objetivo é sempre melhorar a qualidade da madeira produzida aqui na chácara, além de contribuir de forma humilde para a manutenção do meio ambiente”. 

A estratégia, segundo ele, é alcançar a produção de madeira de melhor qualidade, com tronco mais reto, com menos "nós" e padrão exportação. “Para exportar tem que ter uma qualidade mínima, caso contrário, conseguirá vender somente para o mercado local”, comenta.

Linha de crédito

O silvicultor disse que começou a saga indo atrás de linhas de crédito porque teria um investimento inicial  alto, desde a compra de  mudas, que custaram R$ 6 cada, além dos gastos com fertilizante, preparo de solo, grade, calcário, fósforo e subsolador, por exemplo.

“O que temos de incentivo são linhas de crédito com um, no máximo dois anos de carência. Para plantar árvores requer um tempo maior porque 'ela' só vai começar a dar lucro após 12 anos quando começa a produzir sementes para comercialização. Com os desbastes, a madeira poderá ser vendida para ser utilizada em decoração, escora de construção, por exemplo, e isso já me dará um lucro, mas não o suficiente”, explica.  

Pronaf

Nas linhas de crédito como o Pronaf - incentivo do governo federal para a produção da agricultura familiar -, o tempo de carência para o silvicultor começar a pagar sua dívida é curto e acabaria tendo de tirar dinheiro do próprio bolso. “Mesmo se fosse beneficiado com o programa, não conseguiria tirar lucro imediato da minha produção para pagar o empréstimo. Hoje não existe uma linha de crédito a longo prazo para o reflorestamento.” 

O publicitário trocou sua rotina totalmente urbana para atuar de forma independente no campo. Até o momento, todo o investimento foi feito com recursos próprios.  

“Aqui no estado, fui um dos primeiros a investir no mogno africano. Agora que está aparecendo outros produtores desta cultivar. Acredito que este é o momento para se formar um grupo de silvicultores para reivindicarmos algum tipo de ajuda, de subsídios do governo. É preciso pensar em uma nova política de incentivo para o reflorestamento.”

No Brasil, existe uma Associação Brasileira de Plantadores de Mogno Africano que dá um norte para quem quer começar uma plantação, mesmo que pequena, como a da Chácara Paraíso. “Em Goiás mesmo, onde eu busquei apoio do projeto e comprei minhas mudas, o mentor deste trabalho faz um sistema assim: se você não tem a terra, não quer plantar, mas quer investir no mogno, você paga para ele fazer todo o processo, inclusive na propriedade dele, e isso requer outro tipo de investimento. Ao invés de investir no mercado financeiro, você investe no mercado de florestas”, orienta o produtor.

ABPMA

A ABPMA (Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano) foi criada em 2011 e, já nesta época, era meia dúzia de produtores que tinham o mesmo sonho de Saulo - o de fazer o mogno africano se tornar a maior espécie de árvores plantadas no país e no mundo. 

De acordo com a associação, hoje há um número expressivo de plantadores que detêm pelo menos um quarto da quantidade total de mogno plantada no Brasil. A associação está presente em 12 estados, em mais de 47 municípios.

Características

O mogno plantado na Chácara Paraíso tem o nome científico Khaya senegalensis. Na natureza, pode atingir de 30 a 35 metros de altura, com diâmetro de 100 a 250 centímetros de diâmetro. Em plantios acompanhados, a espécie cresce entre 1,5 a 2 metros de altura e 2,4 a 3,5 cm de diâmetro por ano, dependendo das características de solo, clima e manejo.

Investimento 

Na propriedade foi ocupado um hectare para 1.200 mudas. O publicitário lembra que por falta de experiência, algumas linhas ficaram com mais de 3 metros de espaçamento. "Poderia ter aproveitado melhor o espaço", disse. O investimento inicial foi em torno de R$10 a R$ 12 mil.

“Teremos outra adubação em breve. Daqui pra frente, o nível de investimento será apenas para fertilizante e acredito que em menos de 20 anos, que é o prazo para colheita das toras, devo investir mais uns R$ 5 mil.”

Até o primeiro desbaste de floresta, Saulo acredita que conseguirá entregar árvores "de qualidade" em um mercado novo e ainda pouco explorado no Brasil.


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