Genoma de fungo pode traçar soluções de controle para ferrugem da soja

Estudo ajuda a entender como o fungo age e explica a dificuldade em controlar a praga na plantação

10/06/2023 às 07:01 atualizado por Thiago Gonçalves - SBA | Siga-nos no Google News
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Estudo publicado na revista internacional Nature Communications está no caminho para identificar características de variabilidade do fungo causador da ferrugem da soja, o que ajuda a entender melhor como o fungo se adapta rapidamente a condições adversas e explica a dificuldade em controlar a praga.

De acordo com a publicação, mais de 90% do genoma é formado por sequências de DNA repetitivos, capazes de mudar sua posição no genoma. Essa descoberta seria a mais provável causa da alta variabilidade do fungo.

Pesquisadores também identificaram a expansão de famílias de genes responsáveis pela produção de energia e pelo transporte de nutrientes, o que pode ajudar a traçar soluções biotecnológicas de controle.

Com isso, está sendo testado o silenciamento de alguns genes essenciais do fungo, estratégia capaz de reduzir a severidade da doença.

A pesquisadora da Embrapa Soja e uma das autoras do artigo, Francismar C. Marcelino-Guimarães, da Embrapa Soja, comemoram os avanços obtidos com a pesquisa que seqüenciou e montou o genoma de três amostras - dois isolados obtidos no Brasil e um no Uruguai - do fungo P. pachyrhizi, responsável pela praga nas plantações de soja. 

“A disponibilidade do genoma de referência do fungo é essencial para o avanço no conhecimento da biologia e nos fatores envolvidos na adaptabilidade deste fungo, com o intuito de acelerar o desenvolvimento de novas estratégias de controle”, relata Francismar.

A pesquisadora explica que o conhecimento pormenorizado sobre o funcionamento do genoma de referência do fungo é essencial para entender os fatores envolvidos na adaptabilidade desse fungo e que dificultam o seu controle.

Os DNA repetitivos, também chamados de transposons, são fragmentos de DNA capazes de ‘saltar’ ou mudar de posição no genoma, o que pode contribuir para a sua alta variabilidade.

“Pudemos observar que alguns desses transposons se tornam ativos no fungo, saltando no genoma, durante a infecção, principalmente nas primeiras horas de contato com o hospedeiro. Eles se tornam ativos entre 24 e 48 horas após a infecção com outros genes essenciais para o sucesso da infecção, que atuam suprimindo as respostas de defesa da planta, conhecidos como efetores”, detalha a pesquisadora.

Vazio Sanitário

Estratégias de manejo estão focadas em práticas como o vazio sanitário, período em que o campo permanece pelo menos 90 dias sem plantas vivas de soja. A prática reduz o inóculo do fungo. Em junho, tem início o vazio sanitário em alguns estados produtores.

Além disso, outras estratégias de escape da doença são: a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeadura no início da época recomendada, a adoção de cultivares resistentes, o respeito ao calendário de semeadura e a utilização de fungicidas.

Segundo a pesquisadora, observou-se ainda a ocorrência de famílias de genes expandidos responsáveis pela produção de energia e transporte de nutrientes, o que pode indicar uma flexibilidade do seu metabolismo e na aquisição de nutrientes. “Entender o estilo de vida desse parasita, em nível molecular, é importante para identificarmos os genes que são essenciais durante o parasitismo na soja e, portanto, fundamentais à aquisição de nutrientes e à sobrevivência do fungo”, destaca. 

Ferrugem asiática da soja

A ferrugem-asiática da soja é a principal doença da cultura desde sua identificação nos anos 2000. A doença pode levar a perdas de até 80%, se não for controlada, enquanto os custos de manejo para os agricultores somente no Brasil, excedem US$ 2 bilhões por safra. O fungo é capaz de se adaptar às estratégias de controle, seja pela perda da sensibilidade aos fungicidas ou da quebra da resistência genética presente nas cultivares de soja, de modo que o número de soluções práticas para o controle da doença ainda é limitado.

O consórcio internacional é composto por 12 instituições públicas e privadas: Embrapa, as universidades alemãs de Hohenheim e de Universidade Técnica da Renânia do Norte-Vestfália em Aachen (RWTH Aachen University), o Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA-França) e a Universidade de Lorraine (França), além do Joint Genome Institute (JGI, EUA), da Fundação 2Blades, da Bayer, da Keygene, do Laboratório Sainsbury (Reino Unido), da Syngenta e da Universidade Federal de Viçosa (Brasil).

Com informações e foto Embrapa

 


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