Presidente da Apex critica agro brasileiro na China e causa reações

Lideranças do agro e parlamentares desmentem Jorge Viana e Fávaro defende

29/03/2023 às 08:41 atualizado por Valdecir Cremon - SBA | Siga-nos no Google News
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Após ser criticado por representantes de diversos setores do agronegócio, parlamentares e produtores, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, se desculpou
nesta quarta-feira em discurso pelo atrelamento, segundo ele, do agronegócio ao avanço do desmatamento de florestas no Brasil.

“Queria fazer um breve e pequeno reparo. Sou engenheiro florestal de formação, fiz um histórico da situação nossa, especialmente da Amazônia, onde vivo, porque o Brasil teve um aumento do desmatamento nos últimos quatro ou cino anos. Mas o foco meu não era, de jeito nenhum, deixar algum malentendido como pode ter ocorrido. Estamos muito longe do Brasil, acho que daqui para lá as coisas não chegaram do jeito que eu falei”, disse Viana, ex-senador pelo Acre e filiado ao PT. 

Na segunda-feira, quando chegou ao país asiático em uma caravana liderada pelo ministro Carlos Fávaro (Agricultura), Viana disse ser obrigatório “parar de dizer fora do Brasil que o país não tem problema ambiental”.

“Nós temos [problemas ambientais], faz muito tempo”, afirmou durante um seminário organizado pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e o
CCG (Centro para a China e Globalização) em Pequim.

Também disse que 84 milhões de hectares foram desmatados na Amazônia brasileira nos últimos 50 anos. Destes, 67 milhões foram destinados à pecuária e outros 6 milhões, à agricultura de grãos. Segundo ele, os dados são do Ministério da Agricultura, Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e
MapBiomas.

REPERCUSSÃO

As falas de Viana repercutiram mal nesta terça-feira entre congressistas de oposição,  acusaram o ex-senador de prejudicar o Brasil.  A senadora Tereza Cristina Correia Dias (PP-MS) apontou “muita insensatez” nas declarações do presidente da Apex. E acrescentou: a Apex sempre promoveu as exportações,
onde o agro é campeão. Que Apex é essa que acusa o agro de desmatar a Amazônia diante de nossos maiores clientes, na China? Querem derrubar de uma vez só a imagem do país, o saldo comercial e o PIB?”, escreveu no Twitter.

 

 

Antes de se desulpar, Viana também foi ao Twitter discutir com a ex-ministra da Agricultura, com desdém à posição de Tereza Cristina. " A senhora está se pegando em uma desinformacão”, afirmando que sua declaração foi no sentido de promover o agronegócio, as exportações e atrair investimentos. “O tempo da insensatez já passou, acredite!”, escreveu.

 

 

Em nota, a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) também disse que o posicionamento de Jorge Viana é “equivocado” e que demonstra “total desconhecimento sobre a agropecuária nacional”.
 

Leia a nota na íntegra:

"A Frente Parlamentar da Agropecuária lamenta o posicionamento equivocado do atual presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana, sem total conhecimento sobre a agropecuária nacional.

A Apex é uma agência que tradicionalmente trabalhou pela promoção da imagem e dos produtos brasileiros no exterior.

É intangível o estrago que um porta-voz brasileiro, responsável pela promoção das exportações, faz ao se permitir macular toda a pesquisa, tecnologia e precisão implantados pelo setor agropecuário, numa premissa ultrapassada desprovida de informações científicas e oficiais.

Importante registrar que exportamos para mais de 200 países com qualidade, eficiência e atendemos à todos os protocolos sanitários, ambientais e de mercado. O estrago vai além dos produtos agropecuários e atinge diretamente a imagem brasileira perante o mercado internacional.

A FPA reforça os dados oficiais que comprovam a sustentabilidade da agropecuária e da preservação ambiental em números vultosos diante dos países competidores do globo:

1. O Brasil possui 66% do seu território em vegetação nativa preservada ou protegida. Dados da Embrapa Territorial demonstram que proprietários rurais são os que mais preservam, ou seja, 20,5% do País, com áreas de preservação permanente, reserva legal e vegetação excedente de suas respectivas propriedades;

2. Ressalta-se ainda que nenhum outro país do globo possui o modelo sustentável brasileiro, com leis ambientais rigorosas, como o Código Florestal que impõem ao proprietário rural cotas de preservação ambiental da propriedade por bioma: 80% na Amazônia, 35% no Cerrado e 20% aos demais, além de manter preservação em cursos d’água;

3. A área de uso do território nacional para agricultura e pecuária somam 27,8%, atrás de países como China, (55,1%), Alemanha (46,6%), Estados Unidos (41,3%) e Argentina (39%); (Fonte: IPEA/22)

4. O Ipea registra que a expansão da área de produção agropecuária com tecnologias e práticas sustentáveis atingiu 154% da meta fixada no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação da Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). O Plano é uma política pública composta por programas com ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis.

O Brasil, para que não reste dúvida, possui sustentabilidade na produção e vocação para alimentar o mundo, com respeito ao meio ambiente e combate aos crimes cometidos. Não aceitaremos que ideologias superem dados oficiais de satélite e a ciência."

 

FÁVARO
 

Mesmo com a repercussão negativa, o ministro Carlos Fávaro defendeu o presidente da ApexBrasil e  usou o mesmo argumento de que as declarações contra o agronegócio foram mal-interpretadas.

“Talvez, pela distância daqui de Pequim até o Brasil, a conversa chega distorcida. Todos sabem que o seu posicionamento foi favorável à
produção sustentável, para o bem da agricultura e chegou distorcida lá. Mas estamos aqui como testemunhas do bom trabalho que você vem
fazendo também em prol da agricultura”, disse Fávaro durante um discurso para empresários chineses.

O ministro participava do seminário Brazil-China Business, organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China, em Pequim, a capital do país.

 

Frente Parlamentar da Agropecuária

Foto de capa: Divulgação/Apex

 


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