Ferrugem asiática ameaça cultivo de soja em Mato Grosso do Sul

Estado está entre os três mais afetados pela doença, segundo o Consórcio Antiferrugem

13/02/2023 às 23:00 atualizado por Daniel Catuver - SBA | Siga-nos no Google News
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Esporos de ferrugem asiática na folha de soja (Foto: Divulgação/Embrapa)

A safra 2022/2023 tem sido marcada pela ocorrência da ferrugem asiática da soja em diversas regiões produtoras do país. Apesar de registros da praga serem comuns, o que chama a atenção neste ciclo é o número elevado de casos. De acordo com dados do Consórcio Antiferrugem, até a primeira semana de fevereiro foram identificados 170 focos da doença em 146 municípios de dez estados.

Neste período, o Paraná registrou a situação mais preocupante, com 61 ocorrências. Em seguida estavam Goiás (34), Mato Grosso do Sul (31), São Paulo (21) e Mato Grosso (14).

No estado sul-mato-grossense, a ferrugem asiática da soja atingiu lavouras de Amambai, Aral Moreira, Bonito, Caarapó, Chapadão do Sul, Costa Rica, Dourados, Ivinhema, Laguna Carapã, Maracaju, Naviraí, Ponta Porã, São Gabriel do Oeste e Sidrolândia.

Mato Grosso do Sul registrou focos da doença em 14 cidades (Arte: Ruanney Gomes/Canal do Boi)

Origem

A ferrugem asiática é uma doença provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, e possui cerca de 150 plantas hospedeiras, no entanto, a soja é a principal planta em que o patógeno mais incide. Além de ser considerada uma das doenças mais severas para a cultura em qualquer estádio fenológico, com danos que podem variar de 10% a 90% sobre a produção.

Esporos da ferrugem asiática na folha de soja (Foto: Indea/MT)

A pesquisadora do setor de Fitopatologia e Nematologia da Fundação MS, Ana Claudia Ruschel Mochko, explica que os sintomas iniciais da doença podem ser notados na folha da planta. “Surgem como pequenas lesões, que têm coloração um pouco mais escuras do que o tecido sadio, mas são lesões muito pequenas, em torno de 1 milímetro, levemente angulares, que surgem na face debaixo da folha”, explica.

A orientação é que os produtores, consultores e técnicos sempre façam o monitoramento da lavoura, até mesmo com o auxílio de uma lupa de bolso, uma vez que os esporos são pequenos e não podem ser vistos a olho nu.

Condições climáticas

Ana Ruschel destaca ainda que o clima influencia diretamente no desenvolvimento da ferrugem asiática, cuja condição ideal para expansão varia em torno de 18°C a 26°C. No entanto, a doença também é capaz de progredir em ambientes com temperaturas mais amenas ou, até mesmo, mais elevadas.

“Ela precisa de umidade, e nesta safra estamos com condições de umidade muito elevadas, a temperatura está favorável, temos chuvas, temos um hospedeiro suscetível que está presente no campo, então grande parte das tecnologias de soja que temos presentes são materiais que não são resistentes”, ressalta.

A pesquisadora detalha a importância do manejo correto, caso seja identificada a presença do patógeno na lavoura. Veja:

 

Impactos na produção sul-mato-grossense

Apesar do número elevado de ocorrências, o presidente da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), André Dobashi, afirma que a doença está menos agressiva nesta temporada. Ouça:

De acordo com a associação, a área destinada ao plantio de soja na safra 2022/2023 é de 3,840 milhões de hectares, com expectativa de colheita acima de 12 milhões de toneladas e com produtividade acima de 53,4 sacas por hectare. "Em relação à safra passada, podemos dizer que estamos com um desenvolvimento muito melhor das culturas, já que tivemos um mês de janeiro com recorde de chuva em diversas regiões do estado", destaca.

Vazio sanitário

Para mitigar o desenvolvimento da ferrugem asiática nas lavouras de soja, em 2021, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) instituiu o Programa Nacional de Controle da Ferrugem asiática da soja – Phakopsora pachyrhizi, por meio da Portaria nº 306. A normativa estabeleceu o vazio sanitário como ação para o controle do fungo causador da doença, bem como o calendário de semeadura, medida fitossanitária para racionalização do número de aplicações de fungicidas.

Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro, 

O diretor-presidente da Iagro (Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal) de Mato Grosso do Sul, Daniel Ingold, destaca que o cronograma da ação inicia em 15 de junho e termina em 15 de setembro, conforne as diretrizes do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), e a agência atua para garantir que os produtores do estado cumpram a resolução, a fim de evitar que a doença torne-se uma epidemia. "Durante a época do vazio sanitário, não pode ter nenhuma planta e nenhuma tiguera que servirá como hospodeiro para o desenvolvimento do fungo que vai gerar a ferrugem asiática", explica.

Ingold também ressalta que os sojicultores tem um papel fundamental no monitoramento das lavouras. "O produtor é o primeiro vigilante da sua área. É importante saber que ele tem que controlar essa área e seguir todos os protocolos preconizados pela pesquisa  para ataque e resolução desse problema", conclui.

Serviço

Produtores sul-mato-grossenses que identificarem possíveis sinais de ferrugem asiática em suas lavouras podem entrar em contato com a Iagro, pelo telefone 0800 647 2788, ou com a Fundação MS, via e-mail ou pelo (67) 3454-2631.


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