Pesquisa com DNA de planta selvagem avança no controle da brusone no trigo

Resultados preliminares mostram redução de até 50% da doença

23/10/2022 às 15:00 atualizado por Patrícia Martins* - SBA | Siga-nos no Google News
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Um fragmento de DNA de uma parente selvagem do trigo pode ser responsável pelo maior avanço ao combate da brusone, doença que limita o crescimento dos cereiais, tornando os grãos menores, deformados, enrugados, e que pode comprometer até 100% da lavoura. A pesquisa está em desenvolvimento pela Embrapa Trigo do Rio Grande do Sul e o CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo). De acordo com  os resultados preliminares, as plantas selvagens tiveram uma redução de até 50% da severidade da doença em comparação com às que não tiveram alteração molecular.

Trata-se de um longo trabalho iniciado na década de 1960, com a chamada translocação 2NS/2AS, onde o fragmento de um cromossomo Aegilops ventricosa, de uma espécie selvagem do trigo foi retirado e anexado ao material genético do trigo produzido hoje. Os pesquisadores consideram o 2NS/2AS a chave para uma cultivar resistente à doença. 

A seleção para resistência com 2NS/2AS conta com duas linhas de pesquisa que caminham de forma simultânea: o uso de marcadores moleculares e fenotipagem. O uso de marcador molecular visa aprimorar a seleção do fragmento de DNA que será translocado para a planta. Já a fenotipagem consiste na observação das plantas com 2NS/2AS que foram inoculadas com o fungo da brusone, em que são avaliadas as linhagens com melhor resposta de defesa contra a doença. 

Em busca da resistência durável

Mesmo com o avanço do estudo, os pesquisadores alertam que não se pode ficar dependente apenas da 2NS/2AS para controlar a brusone no trigo, visto que a natureza do fungo é de adaptação. Não há garantias de que no futuro, a resistência conferida pela sequência 2NS/2AS não possa ser rompida

Além disso, os principais estudos relacionados à sequência 2NS/2AS têm indicado que a resistência está associada somente à brusone na espiga de trigo, e necessitando de mais estudos sobre o efeito nas folhas.

Ainda que o avanço na eficiência do controle químico associado ao manejo da lavoura tenha evoluído nos últimos anos, a resistência genética das cultivares de trigo ainda é a forma mais segura e econômica para conter a brusone.

Origem

O fungo é um velho conhecido do arroz, já que os primeiros relatos de brusone na cultura datam por volta de 1600, na China. De modo geral, o desenvolvimento da doença é favorecido por altas temperaturas e umidade, condições presentes em países de clima tropical e subtropical. 

No trigo, a brusone foi identificada pela primeira vez no Brasil, em 1985, em lavouras do Paraná, mas a doença rapidamente disseminou-se para outros estados brasileiros. Hoje, além do Brasil, a brusone já é conhecida na Bolívia, Paraguai, Argentina, Bangladesh e Zâmbia.

Com informações e foto de capa da Embrapa

*Com supervisão de Daniel Catuver, jornalista


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