Custos de produção do leite sobem 62% em dois anos

A principal causa do aumento nos preços é a menor oferta do produto nos laticínios, afirmam especialistas

06/07/2022 às 19:51 atualizado por Daniel Catuver - SBA | Siga-nos no Google News
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A inflação dos lácteos no Brasil não se deve apenas pela entressafra. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), apesar do litro de leite UHT ter atingido o valor de até R$ 8,00 em alguns estabelecimentos, devido à chegada do inverno e a redução das chuvas em boa parte das regiões produtoras, o produto já seguia em elevação nos últimos meses.

O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Glauco Carvalho, explica que a principal causa do aumento é a menor oferta do produto nos laticínios, justificada principalmente pela elevação dos custos de produção. “A entressafra tem início em abril, mas a oferta de leite já vinha fraca desde meados do ano passado e se acentuou nos primeiros meses de 2022”, afirma.

Além disso, a entressafra intensificou a escassez de leite no mercado. Nos últimos anos, houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, movimento que gerou uma elevação de 43% no preço ao consumidor.

De acordo com a Embrapa, mesmo em alta, o preço do produto não tem sido suficiente para cobrir os custos. Assim, o impacto negativo na rentabilidade das fazendas levou o produtor a diminuir a oferta e reduzir a alimentação das vacas.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre de 2022, indica uma queda de 10,51% em comparação ao mesmo período do ano passado. Essa foi a quarta queda trimestral consecutiva e a maior desde o início da pesquisa, em 1997. “O volume de leite adquirido no primeiro trimestre deste ano foi o equivalente ao observado em 2017, o que significa que a indústria regrediu cinco anos em termos de captação de leite”, destaca Glauco.

Variação trimestral do volume de leite adquirido pelos laticínios
Fonte: IBGE/Embrapa Gado de Leite

A expectativa é que os números do segundo trimestre, que coincide com o início da entressafra, repitam o cenário de escassez do primeiro trimestre. Mas no segundo semestre, a perspectiva é de algum crescimento na oferta, motivada pelo início do período de chuvas e também por uma recuperação nas margens de lucro do produtor. “Os preços ao produtor estão em alta e isso vai dar um incentivo para melhorar a produção”, pontua o pesquisador da Embrapa. No entanto, Glauco Carvalho salienta que muitos produtores saíram da atividade e outros destinaram animais para o abate. “O impacto disso na recuperação da oferta é difícil quantificar”, conclui.

Para os pesquisadores e analistas do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa, a crise econômica que reduziu o poder de compra da população está evitando que a crise de oferta torne os preços dos lácteos mais elevados. Ainda assim, o leite não pode ser visto como “maior vilão” da inflação de alimentos. Segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), entre os produtos de proteína animal (carne, frango, ovos e lácteos), leite e derivados são os que apresentaram menor alta nestes dois anos.

Com informações da Embrapa

Foto de capa: Arquivo Canal do Boi


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