Crowdfunding de investimento impulsiona economia no agronegócio sustentável

Investimento participativo cresceu 43% em valor de captação no ano passado, de acordo com dados da CVM

05/12/2021 às 16:00 atualizado por Thalya Godoy - SBA | Siga-nos no Google News
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O crowdfunding de investimento é uma forma de financiamento coletivo que permite pequenos investidores apostarem em setores até então dominados por agentes com grandes recursos de capital. Também dá a oportunidade de participar de projetos que alinham desejos pessoais, como o fator econômico e sustentável. 

A Radix Investimentos, que atua no setor de florestas plantadas, viu esse potencial há seis anos e desde lá são mais de 72 mil árvores plantadas, distribuídas em 110 hectares pelo país, com mais de 800 investidores ativos que apostam no empreendimento. 

O último módulo plantado possui 40 hectares e mais de 80 mil títulos.

De acordo com o sócio-fundador da empresa, Gilberto Derze, a Radix entrou no mercado para preencher três lacunas que os fundadores observaram na época: o interesse das pessoas em investir em empreendimentos sustentáveis e com propósito; em segundo a falta de empresas que atendessem a esse desejo de ver mudanças na forma de produção; e em terceiro estava a falta de financiamento para investimentos a longo prazo. 

“A gente queria plantar, mas teria que ser com dinheiro próprio porque o banco não financiava esse tipo de cultura. Agora até começa a surgir algumas linhas de financiamento, mas na época não tinha nada”, relembra Derze.

De acordo com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o crowdfunding de investimento, também conhecido como investimento participativo, captou R$ 84 milhões no Brasil em 2020, o que representa crescimento de 43% na comparação com o valor de 2019, de R$ 54 milhões. 

O montante é 10 vezes maior aos R$ 8.342.924 captados em 2016, ano anterior à regulamentação específica pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da Instrução Nº 588, de 13 de julho de 2017.

 

 

 

A Radix planta mogno africano, árvore que leva entre 18 a 20 anos para completar o ciclo de crescimento. É um longo tempo em que o dinheiro precisa ficar imobilizado, mas que promete rendimentos entre 12% a 16% ao ano. 

O retorno financeiro do investimento é obtido por meio da comercialização da madeira nobre quando as árvores atingem a fase adulta.

O investidor compra a cota uma única vez e recebe trimestralmente um relatório para acompanhamento. A oferta de investimentos é regulada pela Instrução Normativa 588/2017, da CVM.

A rodada de oferta aos interessados acontece quando o plantio em uma área está consolidado ao menos há um ano. A Radix trabalha hoje com cinco módulos, instalados em Minas Gerais e Roraima, cada um plantado anualmente desde 2016. 

As ofertas de títulos de participação sobre investimentos florestais pela empresa acontece a cada quatro meses, seguindo a norma regulamentadora da CVM.

“A gente distribui os títulos, mas uma parte fica com a Radix como lucro da empresa, que toca e administra o plantio. Depois faz atuação, mas a rentabilidade fica junto com os investidores quando a gente explorar essa madeira. Ficamos com 30% dos títulos e os 70% são colocados no mercado”, afirma o sócio.

O mogno africano foi a árvore escolhida para investimento por se diferenciar em alguns pontos de outros plantios de florestas mais comuns feitos no Brasil, como o eucalipto. 

O impacto ambiental do mogno africano é maior em benefícios ecológicos, nas condições de solo, permite trabalhar em áreas menores e oferece um preço melhor na venda da madeira nobre, mesmo diante do ciclo menor do eucalipto, por exemplo. 

“O ciclo do mogno africano é mais longo, mas mesmo anualmente tenho um ganho maior. Essa é uma vantagem do valor agregado. Um eucalipto vai custar R$ 200 o m³ e uma madeira de mogno africano custa entre R$ 3 a R$ 4 mil o m³. Você consegue trabalhar áreas menores e ter um ganho maior”, exemplifica.

 

 

A Radix faz o uso consorciado com outras culturas nas florestas plantadas para fazer o melhoramento do solo, como uma “espécie de adubação verde”.

A empresa realiza alguns experimentos com a plantação de cacau, Pau-de-Balsa e Castanha-Do-Brasil que, futuramente, poderão ter seus frutos e, em alguns casos, a madeira comercializada.

“A gente vem testando o Pau-De-Balsa para ver o desempenho e sua colocação no mercado para depois expandir essa produção junto com o mogno africano”.

Boa parte da madeira de mogno africano tem a origem de florestas da África, o que impulsiona o preço do produto, conta Derze, que vê no Brasil uma vocação para a madeira tropical. 

O mogno africano é muito utilizado nos Estados Unidos e na Europa e tem características semelhantes ao mogno brasileiro. 

Outra intenção da RADIX é entrar no mercado de madeira para substituir o uso de árvores nativas no mercado nacional que, em alguns casos, têm a origem ilegal. 

“A madeira nobre que utilizamos nas nossas casas e móveis são oriundas basicamente de florestas nativas do Brasil. Grande parte são de florestas manejadas, mas uma outra vêm de situações ilegais. Se a gente quer combater o comércio ilegal, precisamos combater com madeira da mesma qualidade. Não adianta colocar madeira de eucalipto serrado ou danificado pra tentar combater uma extração de madeira tropical e nobre. A gente precisa diminuir a pressão sobre as nossas florestas nativas, sobre o desmatamento pela madeira, que é um ativo extremamente caro e cobiçado no mercado”, afirma.

A Radix realiza um acompanhamento para fazer a média de preço dos últimos 12 meses para determinar o valor da madeira que será utilizado nos cálculos da empresa. Como se trata de uma renda variável, o valor pode oscilar para mais ou menos, dependendo da produção que a madeira irá render e o preço de venda daqui alguns anos.

“A gente fala em 20 anos como nosso prazo máximo para retirar, mas para as pessoas que estão investindo são 19 anos porque a floresta está implantada há um ano e pode ser um pouco menos se a floresta estiver pronto antes”, explica. 

 

Pink Farms
Abrigada em um prédio de São Paulo, a produção de vegetais da empresa Pink Farms é feita no centro urbano da maior cidade do país.

Alocada em um galpão de 600m², com 150m² dedicados a produção, a maior fazenda vertical urbana da América Latina surgiu em 2016. Os três fundadores buscavam trabalhar com inovação e encontraram o conceito de produção em ambiente controlado, que é a base de fazendas verticais. 

“Vimos que ajudaria a resolver vários problemas da cadeia de produção de alimentos, principalmente, de hortaliças, como o alto índice de perda pós colheita, além de permitir uma produção livre de agrotóxicos e mais fresca, já que é plantada dentro dos centros urbanos”, explica um dos fundadores da empresa, Rafael Delalibera.

Fazendas verticais conseguem produzir mais com menos espaço. Foto: @danmagatti

Entre as vantagens de trabalhar com o ambiente controlado na produção alimentos, elenca o empresário, está a padronização da produção, produtividade maior e um prazo de validade mais longo do produto por chegarem mais frescos ao consumidor, passando por menos processos e sem marcas de insetos.

Não são utilizados agrotóxicos na produção e o consumo de água é 90% e de fertilizantes 50% mais baixos do que em um plantio convencional. Como a produção é feita em centros urbanos e próxima do consumidor, reduz a distância do transporte em até 15 km.

A fazenda urbana vertical tem alguns pilares, como: 

  • Ambiente 100% controlado (temperatura, umidade, concentração de CO2); 
  • Iluminação 100% artificial através de LEDs de alta potência; 
  • Verticalização da produção (empilhamento de vários níveis de produção); 
  • Sistema automático de coleta de dados com sensores e de controle com atuadores. É uma produção hidropônica mais tecnológica que a convencional.

“É cerca de 170 vezes mais produtivo por metro quadrado de chão na fazenda atual, já que temos 10 níveis empilhados, o ciclo de produção é mais curto e o adensamento é maior”, explica o empresário.

A Pink Farms trabalha com hortaliças folhosas. Os principais produtos são cinco tipos de alfaces e também está disponível para venda sete tipos diferentes de microgreens (microverdes – plantas ultrajovens, que estão na fase logo após o broto e antes da vida adulta). 

Outras culturas estão em desenvolvimento na fazenda vertical, como rúcula, agrião, espinafre e acelga.

A Pink Farms precisou de investimentos para montar as estruturas de produção. A captação por meio de crowdfunding foi a terceira que a empresa fez para obter recursos para a construção da fazenda vertical. 

A escolha por esse tipo financiamento, na avaliação dos empresários, é interessante para empresas que possuem marca de consumo, pois com a entrada de vários “novos sócios”, ela passa a ter mais pessoas divulgando a empresa para conhecidos.

Produção da Pink Farms acontece no maior centro urbano do país. Foto: @danmagatti

 

“É um modelo em que a captação acontece em geral de forma mais rápida se comparada a investimentos de fundos maiores e, diferentemente, do que muitos acham, ele não traz mais complexidade à gestão da empresa, visto que todos os investidores ficam dentro de um mesmo veículo de investimento [o que depende de plataforma para plataforma]”, explica Delalibera.

Uma das dificuldades para quem opta por investimento crowdfunding é a venda do título de participação por não existir um mercado secundário para este fim por empresas não listadas na Bolsa de Valores. Para vender sua parte, o investidor precisa encontrar ele mesmo um comprador. 

“No entanto, existem iniciativas para formalizar um mercado secundário para comercialização de participação em empresas feito por crowdfunding, o que aumentaria bastante a liquidez”, acredita o empresário.

 

Vindima
Segurança, liquidez e rentabilidade são os trinômios que a empresa Vindima visa alinhar quando começa a operar. O negócio em fase de desenvolvimento tecnológico planeja colocar no ar uma plataforma eletrônica de escoamento de produtos de pequenos e médios produtores rurais. 

“O nosso foco é o agro natural, entendendo que não é possível dar escalabilidade em projetos de orgânicos. Nós somos muitos focados em meio ambiente, mas conciliando essa questão da sustentabilidade com o fator econômico, fazer com que esse pequeno e médio produtor rural tenha acesso a um mercado consumidor amplo e, sendo orgânico, ele fica restrito”, explica o sócio da Videira Invest (empresa holding), Rodrigo Rocha.

Além dos ajustes feitos na plataforma, a Vindima analisa em qual tipo de financiamento irá apostar para a captação dos recursos, se pelo crowfunding ou Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), um tipo de investimento lançado em agosto deste ano pela CVM que permite que pessoas físicas e jurídicas invistam no setor do agronegócio brasileiro nos segmentos imobiliário ou de produção.

Produtores de orgânicos poderão acessar novos mercados. Foto: Pixabay

 

O Fiagro reúne recursos de vários investidores para serem aplicados em ativos de investimentos como direitos creditórios, imóveis, valores mobiliários, ações ou cotas de sociedades, sempre no contexto das atividades integrantes da cadeia produtiva agroindustrial. 

“Estamos vendo essas duas possibilidades ou um complementar o outro, sendo o Fiagro o investidor líder dessa plataforma do crowfunding, das ofertas que vão ser feitas lá para os pequenos e médios produtores rurais que, por serem pequenos, nem sempre têm capacidade de ter uma sociedade empresária ideal para fazer essa garantia para o investidor”, explica Rodrigo.

A empresa realiza, no momento, um teste piloto no município de Sílvia Jardim, no Rio de Janeiro, para ensaiar como o projeto se sairia ao ser lançado e habilitado efetivamente na CVM.

 

Foto de capa: Divulgação Radix


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