Especialistas dão dicas de cuidados com bovinos leiteiros diante das baixas temperaturas

Temperaturas na quarta-feira (28) chegaram a sete graus negativos em cidades de Santa Catarina

29/07/2021 às 06:00 atualizado por Thalya Godoy - SBA | Siga-nos no Google News
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As temperaturas no Brasil voltaram a despencar nesta semana, após dois frios intensos no intervalo de um mês em que foram registradas geadas, neve e sensação térmica negativa. Em Bom Jardim da Serra, em Santa Catarina, o termômetro marcou -7,8°C, às 6h, de quarta-feira (28). Em Urupema, a temperatura foi de -7,25°C. 

No campo, é preciso estar atento a previsão do tempo e se preparar para amenizar prejuízos e proporcionar bem-estar aos animais. “Quando os animais sofrem algum tipo de estresse ocorre a queda da imunidade, o que os deixa mais susceptíveis a patógenos”, explica o zootecnista João Paulo Alves, que orienta manter a atenção sobre sintomas de possíveis doenças que os animais apresentem.

Temperaturas no Sul do país registraram valores negativos nesta semana. Foto por Mycchel Legnaghi

A médica veterinária e analista de assistência técnica e gerencial da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Paula Martins, afirma que a zona de conforto térmico, ou zona de termoneutralidade, é a faixa de temperatura considerada ótima para que o animal apresente o desempenho produtivo, e varia de acordo com a espécie, raça e categoria.

Baixa na produção diária; redução do escore corporal; queda no consumo de volumoso e concentrados; e apatia ou relutância em se movimentar estão entre os sinais indicativos de estresse térmico por frio, afirma Paula Martins. 

Bovinos leiteiros de raças de origem taurina, como Holandês, Jersey e Pardo-Suíço, são de regiões de clima temperado, com boa adaptação a baixas temperaturas, com zona de conforto térmico entre 10°C e 21°C. Nesta faixa, a temperatura corporal se mantém constante, com mínimos esforços do sistema termorregulador, explica a médica veterinária.

Cuidados no frio com animais de raças zebuínas, como Gir, Sindi e Guzerá leiteiro, devem ser pautados na boa oferta de alimentos, local de abrigo e disponibilidade de água limpa, com temperatura acima de 18°C, para evitar a ocorrência de hipotermia e morte. Animais de raças de origem zebuína têm zona de conforto térmico entre 15°C e 35°C. 

Os animais mais jovens, especialmente, os recém-nascidos, estão mais vulneráveis e sensíveis ao frio em relação aos bovinos adultos. “Isso ocorre em virtude da baixa capacidade de produção de calor via fermentação ruminal, ausente em recém-nascidos e em desenvolvimento em animais jovens”, afirma Paula Martins. 

A orientação sobre os cuidados com essa idade passa por fornecer locais de abrigo, áreas de maternidade com boa cobertura vegetal, oferta adequada de alimentos e água de qualidade. 

Boa parte da alimentação dos rebanhos do país provém do sistema de produção a pasto que, durante o inverno, com as baixas temperaturas, redução do fotoperíodo e menor índice pluviométrico, tem queda na qualidade nutricional das gramíneas tropicais no teor de proteína e redução de digestibilidade, afirma o zootecnista. 

“Outro problema das baixas temperaturas é quando ocorrem geadas. Elas provocam o congelamento dos tecidos vegetais – e da água do interior das células, ocasionando morte das plantas ou partes delas”, ele explica.

De acordo com o informativo técnico “Principais grupos de forrageiras de clima temperado”, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/SC), para as gramíneas e leguminosas tropicais a temperatura mínima suportada é 15°C, a ótima varia entre 30°C a 35°C e a máxima em 50ºC.

Para as gramíneas e leguminosas temperadas, a temperatura mínima fica entre 5°C a 10°C, a ótima varia entre 20°C e 25°C e a máxima suportada é até 35°C.

Animais precisam de cuidados especiais durante o inverno. Foto Wenderson Araújo/ Sistema CNA Senar

Planejamento
Medidas preventivas podem ser adotadas para enfrentar as baixas temperaturas, afirma o zootecnista João Paulo Alves. Entre as estratégias está um planejamento forrageiro com utilização de espécies que tenham maior tolerância a baixas temperaturas e geadas e um planejamento nutricional com suplementos adequados para corrigir a deficiência nutricional das pastagens.

“É imprescindível que o produtor aproveite as estações de máxima produtividade de volumosos para estocar alimento em quantidade e qualidade para o período de inverno, a fim de garantir que os animais mantenham boas condições corporais, sem perda de produção”, orienta Paula Martins.

A médica veterinária também elenca abrigos, acesso à água, sala de ordenha ou pista de alimentação livre de barreiras, como barro, como cuidados essenciais para garantir conforto aos animais. 

“Para o pecuarista que trabalha em sistemas intensivos e confinados, a estrutura de acomodação dos animais deve possuir cortinas de corta-vento, e orientação longitudinal do telhado no sentido leste-oeste”, aconselha.

O ideal é que os animais recebam durante o ano inteiro uma dieta balanceada, com água de qualidade, em ambiente confortável, livre de restrições que o impeçam de expressar seu comportamento natural, a fim de atender a manutenção e produção. 

O pecuarista precisa realizar um planejamento nutricional pautado na necessidade do rebanho de acordo com a categoria e fase de produção. 

“Um animal em conforto e bem-estar é capaz de expressar todo seu potencial produtivo”, afirma a médica veterinária.

 

Foto de capa por Mycchel Legnaghi


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