Pecuária e produtividade na convivência com a seca

Semiárido registra longos períodos de seca e abriga atividades como a pecuária que estabeleceram uma relação de “convivência” com a estiagem

15/07/2021 às 09:35 atualizado por Thalya Godoy - SBA | Siga-nos no Google News
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Ao longo de 2020 e deste ano, o Brasil registrou estiagens em vários estados do país, como Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Tocantins, o que comprometeu a produtividade nas lavouras e na pecuária. 

A seca é exigente, obriga a mudança de planos e da condução das atividades no campo. Na região Nordeste, os primeiros registros oficiais de estiagem datam de mais de 400 anos, do final do século XV (1583/1585), de acordo com informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Monitor de secas de outubro de 2020 elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)

 

Diante deste cenário, no final na década de 1980 entendeu-se que não é possível “combater” a seca, mas estabelecer uma relação de “convivência”. No semiárido baiano, o pecuarista criador de cabras e que planta palma (cacto), sorgo e milho, Aldei José da Silva, de 37 anos, sempre lidou com o clima seco da região. 

“O convívio com a seca é muito dificultoso, pois faltam alimentos para os animais, mas mesmo com dificuldades o sertanejo vence a seca”, afirma o pecuarista.

O técnico da Embrapa, que atua no município de Casa Nova (BA), Clebio Santos, relata que com a falta de chuvas observou que alguns pecuaristas mudaram a criação devido a dificuldade para produzir forragens. “Com o período de estiagem dos últimos anos, o rebanho de bovinos foi reduzido significativamente”, afirma. 

 

Cultivo de Palma destinada a nutrição e alimentação animal. Foto por Aldei Silva

 

Na história de Aldei, a atividade de pecuarista vem desde o avô, que pretende repassá-la ao filho e neto. Sempre viveu da pecuária e a tem como fonte de renda para sustentar a família em meio ao cenário da seca do semiárido. A produção de leite em tempos de chuva chega a 80 litros diários, enquanto nos períodos de estiagem varia entre 30 a 35 litros, como relata Aldei, que também faz uso de insumos alternativos nessa época para a criação do rebanho.

Aldei utiliza há dez anos a palma, que integra o grupo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), na nutrição e hidratação dos animais, recurso comumente utilizado nos períodos de estiagem na região do semiárido devido à resistência da planta a forte seca. 

A produção de leite de cabra da propriedade é utilizada na fabricação de queijos, feitos pela esposa de Aldei, Regiane, que são comercializados na casa de queijo da família. O local em janeiro de 2020 foi o primeiro do município de Casa Nova (BA) a receber o selo Serviço de Inspeção Municipal (SIM), que assegura o cumprimento de exigências fitossanitárias para a fabricação dos produtos.

Queijo feito com leite de cabra com carne seca. Foto por divulgação Redes Sociais

A casa de queijo foi contemplada pelo Projeto Lago de Sobradinho, conduzido pela Embrapa Semiárido e pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), com o apoio do município. 

A produção na época era de dois queijos por dia e, após o apoio do projeto e melhorias na infraestrutura, a fabricação subiu para 12 queijos diariamente. 

Casa de queijo com leite de cabra de Aldei que contou com orientações de parceiros  para a regularização da fabricação. Foto por Aldei Silva

 

“Com o passar do tempo foram chegando novas tecnologias para armazenamento de alimentos e ajuda de parceiros como a Embrapa com seus projetos vindo nos orientar”, explica o produtor sobre os apoios que recebe para se qualificar para trabalhar na propriedade e para enfrentar as adversidades trazidas pela seca na região.

Em períodos de estiagem, que duram geralmente seis meses na região entre maio a outubro, conta Aldei, a fabricação cai para seis, sete, queijos ao dia. 

 

Foto de capa por Aldei Silva


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