Mulheres são estimuladas a assumir negócios da família, diz Jaqueline Casale

Pesquisa do Cepea aponta que participação das mulheres no agronegócio tem crescido nos últimos anos

08/03/2021 às 15:00 atualizado por Douglas Ferreira - SBA | Siga-nos no Google News
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A participação das mulheres no agronegócio tem crescido consistentemente nos últimos anos. Em pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entre 2004 e 2015 foi registrado um crescimento de 8,32%. No estudo divulgado em 2019, foram traçados perfis que influenciaram o desempenho positivo do setor, os principais são: mulheres casadas e solteiras com mais de 30 anos e ensino médio (149,35%); casadas com mais de 30 anos e ensino superior (46,17%); casadas com 30 anos ou menos e ensino superior (22,66%) e solteiras com mais de 30 anos e ensino superior (20,95%).

Jaqueline Casale Pizzolato faz parte de um destes perfis que correspondem à pesquisa. Filha de industriais. Apaixonada por animais. Nascida em Araraquara (SP). Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Botucatu (SP) em 2010, com ênfase em economia e gestão estratégica na cadeia de produção bovina. MBA em Gestão Empresarial e formação de conselheira pela Fundação Dom Cabral (FDC).

Durante a faculdade, teve a oportunidade de trabalhar por quase 1 ano em confinamentos na Austrália, onde presenciou uma grande presença feminina no campo, lidando diretamente no manejo dos animais.

"Em uma das propriedades, éramos em 11 mulheres e 3 homens na lida com o gado. Prezávamos o bem estar animal, alta produtividade e assertividade no trabalho. Habilidades destacadas em time de mulheres". 

Após experiência de mais de 5 anos em empresas globais do agronegócio e gestão empresarial, como JBS Australia, Minerva Foods, PwC Brasil e BRF, em 2014 iniciou sua trajetória de sucessão na Casale Equipamentos, empresa especializada em máquinas e soluções para pecuária bovina.

Desde pequena foi estimulada pelos pais a estudar, trabalhar e conhecer a rotina da empresa familiar, tendo a mãe como referência, que conciliava a criação dos filhos com a administração da Casale. Jaqueline utilizou esses componentes como objetivos de vida.

Jaqueline Casale Pizzolato Diretora de Desenvolvimento Organizacional da empresa familiar
Foto: Divulgação Casale

“Eu acredito muito na igualdade e na valorização da mulher. Quando você traz esse tema para o agro, já caminhamos muito. Observamos um avanço muito expressivo nos últimos anos. As empresas do setor e propriedades rurais já conseguem ver a diferença e o resultando quando se tem uma mulher no time. Temos que comemorar as mudanças de consciência e interesse das novas gerações. Os pais, as famílias do agro estimulam seus filhos a estudar, buscarem experiência e ajudarem a profissionalizar o negócio da família. Mas a conscientização da igualdade da mulher no campo, ainda é muito importante. Temos um caminho longo para percorrer, principalmente em estados mais tradicionais".

No início de sua carreira profissional, cursou estágio de 6 meses em uma consultoria que transforma dados e análises do mercado agrícola brasileiro em informação estratégica para tomada de decisão de bancos, fundos de investimento, produtores, cooperativas e empresas do agronegócio em geral.

“Foi muito importante para minha carreira estar ao lado de pessoas super competentes na consultoria. Na época tinha bastante mulher e foi muito legal ver mulheres dando resultado, entregando e sendo reconhecidas no mercado. Foi muito bacana ter exemplos muito positivos de mulheres à frente de grandes responsabilidades”.

Pizzolato assegura que ser mulher nunca foi empecilho para o desenvolvimento de sua carreira. Ela conta que mulheres estão sendo estimuladas a assumirem os negócios familiares. “Temos uma forma diferente de lidar, muitas vezes essa forma facilita a comunicação e o diálogo. A mulher tem uma questão do feminino, amorosidade, que é diferente do homem. Também outras características como a resiliência, o detalhismo, coisas que facilitam na vida de qualquer empresário ou executivo”, pontua.

De acordo com Jaqueline, na Casale a maioria dos funcionários são homens, cerca de 8% são mulheres. A empresa desenvolve ações para aumentar a participação feminina no negócio.   

Pizzolato assegura que ser mulher nunca criou empecilhos para o desenvolvimento de sua carreira
Foto: Divulgação Casale

Mulheres do Brasil

O Grupo Mulheres do Brasil foi criado em 2013 por 40 mulheres de diferentes segmentos com o intuito de engajar a sociedade civil na conquista de melhorias para o país. É presidido pela empresária Luiza Helena Trajano e conta com mais de 80 mil participantes no Brasil e exterior. No mesmo ano, criaram o "Comitê 80 em 8", em virtude ao dado do Relatório de Gênero, divulgado no Fórum Econômico Mundial, que demonstrava que a desigualdade entre homens e mulheres em cargos de liderança, levaria 80 anos para deixar de existir. 

Jaqueline é uma das líderes do Núcleo de São Carlos (SP), que foi fundado em agosto de 2020, em meio a pandemia de Covid-19. Atualmente a unidade conta com mais de 100 membras. “A proposta do núcleo é trabalhar em ações transformadoras para nossa cidade, unindo força com os demais núcleos. Fazemos isso por meio de comitês de frentes trabalhos, como o de Empreendedorismo, Combate à violência contra a mulher, Igualdade racial, entre outros. No comitê 80 em 8, por exemplo, objetivamos reduzir de 80 anos o tempo estimada para participação da mulher na liderança de organizações para 8 anos. Esse comitê tem um trabalho bastante relevante, pensando na igualdade de gênero nas empresas e nas corporações”, explica.

O segundo relatório global “Mulheres em negócios e gestão: o caso de negócios para a mudança” indica uma melhora no desempenho organizacional da empresa. “Nós sabemos que os resultados e a lucratividade aumentam, tem bastante estudo em relação a isso", comenta Jaqueline. 

Jaqueline Casale lídera o núcleo de Núcleo de São Carlos (SP) do grupo Mulheres do Brasil
Foto: Divulgação Casale

Além do "Comitê 80 em 8", o grupo possui outros para assuntos específicos, como por exemplo o de agronegócios, que desenvolvem o trabalha de auxiliar produtoras da agricultura familiar. Seu objetivo é contribuir com a sociedade e retornar de alguma forma com seu trabalho e conhecimento adquirido.

“Acho que cabeças boas nos lugares certos, contribuindo, é muito importante. A sociedade só tem a ganhar com isso. É muito prazeroso e gratificante. Nós conseguimos levar para o governo pautas relevantes a serem trabalhadas. Estamos com uma campanha unidos pela vacina, onde conseguimos mobilizar muita gente, e contar com apoio de entidades públicas, prefeituras e governos, e também o apoio de iniciativas privadas, que está sendo fundamental para dar andamento para as ações. Grandes mulheres mobilizando é algo de uma força incrível, que a gente não consegue mensurar. Talvez até em palavras seja difícil, mas a força dessa mulherada é sensacional". 

Mensagem às mulheres

“Não desista dos seus sonhos. Seja o que você quiser, no tempo que você desejar. O trabalho do homem, junto com uma mulher, só tem a fortalecer. Então vocês podem estar onde quiserem. Junto, lado a lado com os homens”, finaliza.


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